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    DiCaprio sofre em nova busca pelo Oscar no sanguinolento 'O Regresso'

    RODRIGO SALEM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

    04/12/2015 02h35

    Sofrimento fortalece o caráter. E pode render um Oscar. É o que Leonardo DiCaprio espera de "O Regresso", previsto para estrear no Brasil em 21 de janeiro.

    No novo filme de Alejandro González Iñárritu, vencedor das recentes estatuetas de melhor filme e direção por "Birdman", o galã de "Titanic" (1997) come o pão que o diabo amassou em mais de duas horas de sofrimento extremo.

    DiCaprio interpreta Hugh Glass, um guia no norte dos EUA de 1820. É uma figura requisitada por seu envolvimento com uma tribo local, cuja única lembrança é o idioma pawnee e um filho nativo, Hawk (Forrest Goodluck).

    Um grupo de mercadores de pele contrata Glass para explorar uma região dominada por índios e franceses. Na primeira cena, toda em plano-sequência, o bando é atacado por índios, e poucos escapam.

    Para que sigam em segurança, Glass arrisca o caminho pelas montanhas. Mas é atacado por uma ursa, que o estraçalha. Lembra quando muitos viravam a cara por causa da violência de "A Paixão de Cristo" (2004), de Mel Gibson? Multiplique por dez.

    Iñárritu não poupa o espectador nesse momento. O animal retalha o personagem de DiCaprio de forma tão brutal que um site americano enxergou na sequência um estupro e criou uma polêmica (infundada) que dominou a imprensa especializada antes da primeira exibição para os membros da Academia, acompanhada pela Folha.

    Ferido e com chances mínimas de sobrevivência, Glass vira um fardo insuportável para o grupo, principalmente para John Fitzgerald (Tom Hardy), o mais ganancioso deles.

    Ele tenta matar o companheiro moribundo, mas o filho do guia o impede e é assassinado na frente do pai.

    Baseado no livro de Michael Punke sobre o verdadeiro Glass, o longa não é de fácil digestão. É um filme de vingança tradicional, como um bom faroeste, mas recheado com as ideias nadas sutis de Iñárritu sobre humanidade, mercantilismo e valor da vida.

    De certa forma, "O Regresso" é um "anti-Birdman". Há uma ambição visual mais ampla, trocando o confinamento do teatro pelas lindas paisagens do Canadá. E, principalmente, não há quase diálogos –o personagem de DiCaprio tem parte da traqueia rasgada e mal consegue falar.

    Na jornada vingativa de Glass rumo ao assassino do filho, ele enfrenta nevascas, índios corruptos, soldados, ossos quebrados, falta de comida e até uma noite nu dentro da carcaça de um cavalo.

    Num momento, Glass precisa comer o fígado cru de um búfalo morto. Ele vomita; DiCaprio, vegetariano, diz que foi sua reação real, mantida pelo cineasta mexicano.

    A Fox e o astro estão explorando esse sofrimento romântico na campanha ao Oscar de melhor ator para DiCaprio. As chances são grandes. Já são quatro derrotas de ator na Academia e o esquecimento inexplicável de seu vilão em "Django Livre" (2012) pelos votantes.

    E os concorrentes estão ajudando. Michael Fassbender sumiu em "Steve Jobs", e "Spotlight", drama jornalístico sobre casos de pedofilia entre padres de Boston, jogou todos seus atores para a categoria de coadjuvantes.

    O problema de "O Regresso" é que os membros da Academia podem sofrer mais que o desejado, algo que aconteceu com "A Paixão de Cristo".

    Há, contudo, um trunfo: Emmanuel Lubezki. O diretor de fotografia, favorito ao terceiro Oscar consecutivo, recria o espírito natureba de Terrence Malick de "A Árvore da Vida" (2011) em imagens esplêndidas, todas filmadas em luz natural. Pode não ser suficiente, mas equilibra a crueza sanguinolenta do longa.

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