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    Sou o Chaves brasileiro, diz Ivo Holanda, famoso ator de pegadinhas

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    06/12/2015 02h50

    Como é que nenhuma vítima das "pegadinhas" reconhece o Ivo Holanda quando ele prega uma peça em pedestres desavisados?

    Vendo o humorista de 80 anos abrir o portão do apartamento onde mora, em um conjunto habitacional na zona norte de São Paulo, não é difícil dar razão a quem cai nos trotes que Holanda protagoniza há 33 anos no "Programa Silvio Santos", no SBT.

    Ele recebe a Folha vestindo o boné com o logo de uma rádio, camiseta com a foto de um fã (ganhou de presente) e papetes com meias. Passaria facilmente por mais um senhor vendendo inocentemente "suco mais salgado" a R$ 1 na Praia Grande, litoral paulista.

    Como na última "pegadinha" que gravou, há duas semanas –o suco era "temperado" com sal. Ao primeiro gole, sobram socos no humorista, possivelmente o indivíduo que mais apanhou na TV brasileira e para quem não há dor maior do que ficar longe dela.

    Danilo Verpa/Folhapress
    SAO PAULO - SP- 03.12.2015 - Ivo Holanda no primeiro dia da Comic Con realizado na Sao Paulo Expo. (Foto: Danilo Verpa/Folhapres, ILUSTRADA)
    O comediante Ivo Holanda na quinta (3), em evento em SP

    Ele se senta no centro de um sofá de três lugares. Na parede, sobre sua cabeça, há uma foto sua como o palhacinho Rococó –personagem que criou aos 14 e na pele do qual aparecia, diz, na TV Tupi.

    Sobre outra foto sua na parede, colou uma imagem do "patrão". "Minha paixão é essa: Silvio Santos", diz, sobre o empregador que o mantém em contrato vitalício.

    "Quando existiu televisão, eu já fazia", conta. Ivo escapava do trabalho como contínuo para bater na porta da primeira emissora brasileira querendo aparecer. Esperava horas, "construindo amizade" e "enchendo o saco" dos diretores.

    Filho de agricultores, Ivo Holanda de Barros é um dos coadjuvantes mais antigos da televisão –de uma ponta em "O Ébrio" (1966), a primeira novela das 20h da Globo, ao boneco Bugalu no "Viva a Noite", do Gugu, nos 1980.

    Ganhou fama (e contrato) quando caiu nas graças de Silvio Santos, em quadros no "Alegria 82" e "Topa Tudo por Dinheiro". Sucesso, para ele, é fazer o "patrão" gargalhar.

    "Eu me considero o Chaves do Brasil", afirma Holanda, em referência ao mexicano Roberto Bolaños (1929-2014), tão longevo no SBT quanto ele próprio. "Passam as pegadinhas mais antigas e as pessoas ainda me acham legal."

    SEM ROTEIRO

    Tanto acham que foram vê-lo na quinta (3), na feira de cultura pop Comic Con Experience, em São Paulo. Na ocasião, ele provou o próprio veneno: atores disfarçados entre fãs lhe pregaram um susto ao confrontá-lo com histórias falsas. Uma delas, de uma garota que contou que o pai teve problemas cardíacos após uma pegadinha.

    Sobre o ofício, conta que pouco mudou desde 1982, quando Silvio importou a "câmera escondida" dos EUA.

    Até hoje, as pegadinhas não têm roteiro. Ivo Holanda recebe uma ligação na véspera das gravações; um carro lhe pega em casa e o leva até locação, onde recebe orientações gerais do diretores e um ponto de comunicação no ouvido. No mais, coloca a cara à tapa, gravado por três câmeras escondidas em vans.

    O maior ator de pegadinhas do Brasil –poucas vezes reconhecido em cena, garante– não sabe como os trotes são criados ou quem imagina loucuras como colocar uma menina vestida de fantasma para aterrorizar os passageiros de um elevador, como em 2012.

    Sabe que algumas são boladas pelo próprio Silvio, como uma em que Ivo Holanda atira uma bomba falsa e assusta quem está em uma fila num depósito de gás de cozinha.

    Como o enredo de uma pegadinha, sua rotina não muda. Sai pouco de casa e mora com a esposa no mesmo lugar há mais de 40 anos. "Minha vida é esperar o SBT me chamar para gravar."

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