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    CRÍTICA

    Política é engolida pelo mito em filme sobre guerrilheiro

    ELEONORA DE LUCENA
    DE SÃO PAULO

    11/12/2015 02h40

    Descendente de escravos, Osvaldo Orlando da Costa (1938-1974) nasceu em família pobre de Passa Quatro (MG). Foi estudar no Rio, se engajou no movimento estudantil e ingressou no Partido Comunista do Brasil.

    Para combater a ditadura militar, se deslocou para o Araguaia com o objetivo de estruturar uma guerrilha rural com seus companheiros. Caçados de forma feroz, foram dizimados pelo Exército. Apesar de testemunhos sobre o assassinato, o corpo de Osvaldão nunca apareceu.

    O apelido superlativo era fruto de sua estatura (1,98 m), do porte atlético –chegou a ser campeão de boxe. Sua trajetória chega às telas com "Osvaldão", de Ana Petta, André Michiles, Fabio Bardela e Vandré Fernandes, do coletivo Gameleira.

    Divulgação
    Créditos: Divulgação Legenda: Cena do documentário "Osvaldão" ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O guerrilheiro Osvaldão, que media 1,98 m e foi campeão de boxe, em cena do documentário batizado com seu apelido

    O primeiro mérito do documentário é resgatar a história de um personagem ainda pouco conhecido na história da luta contra a ditadura. Imagens de Osvaldão numa escola em Praga, nos anos 1960, são um ponto alto da fita.

    Há também entrevistas curiosas, como a de um agente da repressão que relata o cerco aos guerrilheiros, ou de um fazendeiro da região que conta como ocorria a perseguição.

    Mas o filme não tem musculatura nem colorido maior. Costura uma série de entrevistas com familiares, amigos e companheiros políticos numa esperada sequência. Tem problemas técnicos, especialmente de áudio, e um roteiro que parece se acomodar ao ritmo frouxo do declaratório.

    Assim, enfatiza as lendas que surgiram na mata a respeito da invencibilidade do negro alto e forte. Ele se transformaria em pedra, escaparia de forma mágica dos militares. A política submerge, engolida pelo mito.

    Fora a afirmação de generalidades, o filme pouco traz sobre as ideias de Osvaldão. Sem uma pegada mais vigorosa, presta uma homenagem. É bom que tenha sido feito.

    OSVALDÃO
    DIREÇÃO Ana Petta, André Michiles, Fabio Bardela e Vandré Fernandes
    PRODUÇÃO Brasil, 2015, 10 anos
    QUANDO em cartaz

    Edição impressa

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