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    Filme 'O Clã' narra crime na ditadura argentina com ritmo pop

    GUILHERME GENESTRETI
    DE SÃO PAULO

    11/12/2015 02h03

    "O Clã", produção que desbancou "Relatos Selvagens" como a maior estreia argentina no país vizinho, traz um relato bem mais selvagem do que qualquer um dos episódios do longa destronado: a história real da família Puccio, que durante a década de 1980 usou o próprio casarão, em Buenos Aires, como cativeiro para os seus reféns.

    "O Clã" estreou no Brasil nesta quinta (10), após ter sido visto por mais de 2 milhões de pessoas na Argentina.

    Sob a fachada de patriarca pacato, Arquímedes Puccio valeu-se da experiência como ex-agente da ditadura para chefiar esquema de sequestro de familiares de empresários. Teve a ajuda de dois filhos.

    Divulgação
    Peter Lanzani e Guillermo Francella em cena do filme "O Clã"
    Peter Lanzani e Guillermo Francella em cena do filme "O Clã"

    Nos últimos oito anos, o diretor Pablo Trapero ("Elefante Branco", 2012) revirou esse episódio da crônica policial portenha e lançou o candidato argentino a uma vaga no Oscar de filme estrangeiro.

    "Há um contexto histórico, que é o fim da ditadura. Mas o coração é o conflito entre um pai e seu filho", diz o diretor à Folha após a estreia, em setembro, no Festival de Veneza, de onde ele saiu com o Leão de Prata (melhor direção).

    O embate se dá com o primogênito relutante dos Puccio, Alejandro (Peter Lanzani). "Ele tem essa dualidade: é vítima e algoz. Sabia da perversidade do atos do pai, mas era ambicioso, ajudou", diz Lanzani, 25, que iniciou a carreira como ídolo adolescente na música e na TV argentina.

    O pai de Lanzani chegou a jogar rúgbi como o Alejandro da vida real nos anos 1980.

    "Ele me contou que Alejandro foi ficando introspectivo a partir do ano em que os sequestros começaram e ninguém ainda sabia de nada."

    Guillermo Francella, consagrado na comédia local, vive Arquímedes, o cérebro de todo o esquema. "Foi um homem bem particular: ajudava os filhos na lição de casa e sequestrava pessoas sem dó."

    Nunca ficou claro se os outros membros da família, como as filhas, tinham total conhecimento dos crimes e que as vítimas eram encarceradas dentro da casa em que moravam.

    Trapero tingiu a trama com verniz "scorsesiano" de narrativa ágil e trilha pop, "para atenuar a brutalidade dos fatos", diz. Num trecho, entremeia um assassinato cometido por Arquímedes com cenas de sexo entre Alejandro e a namorada no carro da família.

    "O que aparece está escrito no processo", afirma Trapero. "Os amigos relatam que o carro de Alejandro tinha sempre um cheiro forte: era o clorofórmio usado nas vítimas."

    Segundo ele, a recepção do filme por parte dos parentes dos indivíduos raptados pelos Puccio era uma preocupação.

    "O filme pode parecer desrespeitoso com as vítimas. Mas não é sobre elas, é sobre a crueldade da família", diz.

    "O Clã" tem produção dos irmãos espanhóis Agustín e Pedro Almodóvar, que nos últimos anos têm produzido menos na Espanha e buscado projetos em outros países.

    Para Trapero, a parceria com os espanhóis permitiu um olhar estrangeiro. "Era essencial: esse caso é muito particular da Argentina."

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