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    CRÍTICA

    Teatro filmado, 'Hysteria' deixa a sensação de peça datada

    NELSON DE SÁ
    DE SÃO PAULO

    17/12/2015 02h40

    Embora o espetáculo original volta e meia reapareça em cartaz –como quatro dias atrás, na Jornada do Patrimônio de São Paulo– o documentário de mesmo nome, "Hysteria", deixa a sensação de retratar uma peça datada.

    Dirigido pela cantora Ava Rocha, em codireção com Evaldo Mocarzel, e montado por ela, o filme que estreia nesta quinta (17) é de andamento lento e não traz maior revelação sobre o espetáculo, que foi bastante festejado ao estrear, há 14 anos.

    Em grande parte, é teatro filmado, o que quase sempre –como agora– resulta em frustração com o teatro. Exceções como o "Looking for Richard" de Al Pacino (1996), traduzido aqui como "Ricardo 3º - Um Ensaio", são raras.

    Divulgação
    Créditos: Divulgação Legenda: Cena do filme "HYSTERIA" ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    A atriz Janaina Leite em cena do documentário 'Hysteria', de Ava Rocha e Evaldo Mocarzel

    Por outro lado, o que torna a peça aparentemente datada, ao ser revisitada pelo documentário, é mostrar-se exemplar de um momento saudosista do teatro paulistano.

    Surgindo em 2001 no rastro de espetáculos neocatólicos de Gabriel Villela, Antonio Araújo e outros, usando passagens da Bíblia e muitos bordados, "Hysteria", do Grupo XIX de Teatro, parece agora nostálgica do tempo em que mulheres se cobriam até o pescoço com rendas, enviavam cartas a Jesus e rezavam juntas o "Pai Nosso".

    A divisão que havia de mulheres e homens no público se torna, no filme, um virtual desaparecimento dos segundos.

    Registre-se que no palco "Hysteria" não era bem assim –e talvez ainda não o seja. Havia, por exemplo, uma beleza sensual que vazava o cenário opressor de um manicômio feminino no final do século 19: 1897, como indica o texto a certa altura.

    Quando surgia na peça o verso-chave "A mulher foi feita para sentir/ E sentir é quase uma histeria", havia mais do que vitimização, como agora no filme.

    Paralelamente às cenas da peça, tomadas durante uma excursão por 18 cidades de Santa Catarina em 2009, em casarões que infelizmente não são identificados, o documentário tem imagens externas intermináveis em praias catarinenses, com ondas e areia ao vento, árvores e chuva, em obsessão "sensorial".

    Também traz alguns depoimentos pontuais das atrizes, em off e novamente sem identificação –e sem maior revelação. Se contrastado com o registro de atrizes como Marília Pêra por Eduardo Coutinho, no documentário "Jogo de Cena" (2007), o resultado é mais frustração.

    De qualquer maneira, estão lá as atrizes originais Janaina Leite e Juliana Sanches, belas e delicadas, em imagens que remetem à "Hysteria" histórica, vista no velho prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, na rua Maranhão, em São Paulo.

    HYSTERIA
    DIREÇÃO Ava Rocha e Evaldo Mocarzel
    PRODUÇÃO Brasil, 2015, 14 anos
    QUANDO estreia nesta quinta (17)

    Edição impressa

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