• Ilustrada

    Thursday, 02-May-2024 23:03:33 -03

    Perfeccionista, Sérgio Abreu critica os próprios deslizes ao tocar violão

    JULIANA CUNHA
    EDITORA-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

    18/12/2015 02h00

    O luthier e violonista Sérgio Abreu comenta os vídeos do Duo Abreu, dupla de violão clássico que manteve com seu irmão, Eduardo, até a década de 1970. Raros, os vídeos foram encontrados recentemente por uma gravadora alemã.

    *

    O que você achou dos vídeos? Lembra das circunstâncias em que foram gravados?

    O vídeo do Rameau não deve ser de um recital em público, pois estamos com roupas informais, não com as que usávamos em concertos. O ano do vídeo é 1974. Pude verificar por fotos feitas em Londres por encomenda de nosso empresário, Basil Douglas, no início da turnê (provavelmente no final de setembro de 1974).

    Pelas fotos, noto que são as mesmas roupas, apenas os cabelos estão mais longos no vídeo, portanto o vídeo deve ser de um mês depois, talvez um pouco mais. Eu lembro que fizemos um recital na ORTF durante a turnê de 1974, mas não lembrava de ter gravado esse vídeo, embora faça sentido.

    O curioso é o violão que eu estou usando nesse vídeo. Nessa turnê, Eduardo usou um Rubio/ Fischer de 1972 e eu um Rubio de 1965 feito em Nova York. No entanto, a roseta desse violão que eu estou tocando no vídeo não é a do Rubio de 1965, é de um Rubio/ Fischer de 1974 que eu adquiri durante aquela turnê.

    Eu me lembro de ter gostado muito desse violão, mas não lembrava de o tê-lo usado logo em seguida. Uma temeridade, claro, e talvez isso explique (embora não justifique) tantos esbarrões escancarados de minha parte.

    Bem, paciência...

    Duo Abreu toca as "Três peças do segundo livro para cravo", do compositor francês Jean-Philippe Rameau

    E do outro vídeo, da "Tonadilla", você gostou?

    Gostei muito mais da "Tonadilla". Essa gravação deve ter sido feita um pouco antes da gravação do LP da CBS em que ela está incluída. Fora um trecho curto em que o meu dedilhado no baixo não estava funcionando (um defeito que eu mudei e resolvi a tempo para a gravação do disco).

    No geral, gosto bem mais dessa versão do que da versão do LP. No disco, esse movimento está afobado, enquanto que nesse vídeo está no ponto exato. E os violões são maravilhosos, combinam esplendidamente. Acho que dois Hausers não combinariam tão bem, além de que, nessa peça, o Santos Hernandez na mão de Eduardo dá um toque espanhol perfeito.

    No entanto, essa "Tonadilla" é mil vezes mais fácil do que o Rameau, tanto tecnicamente quanto musicalmente. No Rameau tudo é totalmente transparente, cada detalhe é importante e qualquer falha grita, por minúscula que seja. Se eu tivesse me dado conta disso na época, nunca teria feito esse arranjo do Rameau. Mas a música é maravilhosa.

    Duo Abreu toca a "Tonadilla", do espanhol Joaquin Rodrigo

    Quem fez essas gravações? Por que elas se perderam?

    Esses vídeos foram gravados em Paris, pela ORTF Francesa. Não me lembro especificamente de ter gravado esses ou outros videos. Durante nossa carreira, fizemos muitas apresentações em televisão em vários países da Europa. A maioria acredito que tenha sido transmitida diretamente ao vivo, sem ter sido gravada.

    Há gravações em vídeo para a BBC de Londres que eu me lembro de termos feito, mas que não foram preservadas. Convém lembrar que naquela época fitas de vídeo eram muito dispendiosas e era prática frequente gravar coisas por cima das outras.

    Você tem vontade de reeditar os discos do Duo Abreu já que nunca foram lançados em CD? Há planos nesse sentido?

    Já houve planos nesse sentido, mas nunca se conseguiu localizar as fitas originais na Inglaterra.

    Você e Eduardo ainda tocam juntos quando se encontram?

    Desde que Eduardo abandonou a carreira, no final de 1975, nunca mais tocamos nada juntos, nem em casa. Ainda tocamos individualmente, por lazer.

    Por que você decidiu seguir a carreira de luthier em vez de continuar sua carreira como violonista?

    Porque me cansei da carreira de concertista e do excesso de viagens, do contato com o público. Sempre tive necessidade de isolamento, ser luthier foi uma escolha perfeita.

    Quais são os violonistas brasileiros que mais te agradam atualmente?

    Tenho grande prazer em constatar que temos inúmeros violonistas de talento excepcional, tanto na nova geração quanto na anterior. Da minha geração, sempre tive grande amizade e admiração pelo Turíbio Santos, cindo anos mais velho do que eu, que conheci na casa de meu avô quando eu tinha dez anos de idade. Mas são 06h20 da manhã e acabei de chegar da oficina, estou caindo de sono. Não quero me arriscar a fazer uma lista nessas condições pois correria o risco de deixar muitos excelentes músicos de fora

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024