• Ilustrada

    Saturday, 04-May-2024 05:21:04 -03

    Guilherme Arantes faz shows em SP cantando primeiro álbum na íntegra

    THALES DE MENEZES
    DE SÃO PAULO

    18/12/2015 02h00

    Guilherme Arantes, 62, faz três shows no Sesc Belenzinho, de sexta (18) a domingo (20), tocando na íntegra seu primeiro e homônimo álbum, de 1976. Os ingressos estão esgotados.

    Não se trata apenas de celebrar uma "data redonda". O disco tem tanta história por trás de sua gravação que o cantor e compositor faz com ele uma espécie de autoanálise.

    Marcelo Justo/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 04-04-2013, 15h00: Retrato Do cantor e compositor Guilherme Arantes, que lana disco novo, "Condio Humana (Sobre o Tempo)", depois de sete anos sem lanar um lbum com inditas. (Foto: Marcelo Justo/Folhapress, COTIDIANO***EXCLUSIVO***
    O compositor, pianista e cantor Guilherme Arantes, 62, posa para foto no hotel Marabá, em São Paulo

    "Há 40 anos, exatamente nessa época do ano, eu estava na batalha, ia na Som Livre, na rua Augusta, conhecendo quem seria meu primeiro produtor, o Otavio Augusto. Devo muito a ele, foi o olheiro quer me farejou e trabalhou por mim dentro da gravadora", conta o cantor.

    "Meu Mundo e Nada Mais" foi inserida na trilha sonora da novela "Anjo Mau", um dos maiores sucessos no horário das 19h na Globo. Guilherme Arantes fez sucesso nacional em questão de semanas.

    Mesmo sem ter sido um vendedor estrondoso de discos ("Sempre fiquei nos meus 30 mil vendidos a cada disco"), se consagrou, com músicas de sucesso gravadas, entre outros, por Maria Bethânia e Elis Regina. Continua a gravar e tem um estúdio na Bahia.

    Folha - Você teve uma banda de rock progressivo, Moto Perpétuo. Quando acabou, deixando um disco hoje cultuado, como foi a mudança para a carreira solo?
    Guilherme Arantes - Eu gravei uma fita mono, num estúdio no centro de São Paulo, e fui rodar as gravadoras com ela. Philips, RGE, Continental, Copacabana. Enfim, todas da época. Fui até a Som Livre muito sem esperança, lá só tinha gente gravando em inglês, Terry Winter, Morris Albert e tal. Mas caí na mão do Otavio, que viu alguma coisa em mim. Minhas músicas vinham no estilo daquele baladão internacional, tipo Bread, Cat Stevens, Elton John, mas era um híbrido, com as letras em português, que eu puxava muito da poética do Clube da Esquina, de Ronaldo Bastos, Fernando Brant.

    Muito diferente do trabalho com o Moto Perpétuo?
    Sim. Com a banda foi maravilhoso, mas gerou uma coisa angustiante, porque era lindo, eu me orgulho de como fizemos algo tão bonito em condições tão precárias. Eu tinha que ir para o viável, que era o auditório, o Brasil era um país de sucessos populares em auditório, não um país de rock progressivo. Eu era um cara palatável para a televisão, era um desperdício não fazer música popular. Eu ia assistir ao programa "Jovem Guarda", via o Roberto Carlos e aqueles caras fazendo sucesso de verdade, em todas as camadas, agradando às menininhas pobres, eu queria isso. Não queria um rock pedante. Queria ser Roberto, Ronnie Von, ir pro Chacrinha e pro Bolinha. Virei famoso. Tenho orgulho desse crossover social.

    Você gosta do resultado de "Guilherme Arantes"?
    Ouvindo esse primeiro disco eu me emociono bastante, porque na época eu estava para me suicidar. Eu cheguei a ir até a beirada do prédio onde meu pai morava para pular. É sério. Eu estava mal. Tanto que algumas letras transmitem esse desespero. Eu tinha 22 anos na época, era um cara muito amargurado. Estava na FAU, na USP, e lá a gente só ouvia coisas mais eruditas. Muito Gismonti, também aquele período mais denso do Taiguara, que eu gosto até hoje. Estava angustiado, meu pai queria me colocar para fora de casa. Queria largar a faculdade e estava sofrendo um bullying doméstico monumental

    Como seguiu o relacionamento com seu pai?
    Meu pai não aceitou a minha carreira até meados da década de 1990, quando ele foi pela primeira vez a um show meu, no antigo Palace. Fiz uma homenagem, armei uma choradeira. O problema é que meu pai queria ser um músico popular e a mãe dele não deixou. Ele tocava violão pra caralho, mas deixou para fazer medicina. Mas eu prosperei e tudo ficou melhor.

    E sua mãe?
    Depois ela virou macaca de auditório. O problema dos meus pais era que eles queriam que eu terminasse a FAU. Eu poderia até ter terminado, sabe? Virei meio arquiteto, o estúdio que eu tenho na Bahia fui eu que projetei no AutoCAD. É que eu tinha problemas na FAU. Quando eu estourei e virei cantor de programas de auditório, meus colegas me zoavam. Queriam que eu fizesse algo mais sofisticado, achavam a minha música uma merda, diziam que eu era um Gismonti em potencial. Isso se resolveu com a Elis. Quando a Elis Regina gravou músicas minhas, ah, aí isso tudo mudou, né?

    Como "Meu Mundo e Nada Mais" entrou para a trilha de "Anjo Mau"?
    O Otavinho que conseguiu. Ele dizia que eu era o Elton John brasileiro. O Elton John era o maior vendedor de discos do mundo. Aí eu chego também cantando balada no piano, de óculos, com tendência à calvície. [risos] Eu dei muita sorte.
    Fui para o estúdio com a incumbência de parecer ao máximo com o Elton John. Eles falavam 'Faz Elton! Faz Elton! E eu imitava o fraseado dele no piano. E eu já fazia algo assim muito antes. 'Meu Mundo e Nada Mais' eu escrevi em 1968.

    Você acompanhou a novela?
    Eu assistia, acho que vi uns 300 capítulos! Minha avó morava na época em um pensionato da Liga das Senhoras Católicas. Ela foi minha madrinha musical, foi quem me deu o piano. Eu ia para lá, jantava com as velhinhas e ficava assistindo à novela com elas. Quando a música tocava em alguma cena, era uma comemoração!

    Outras músicas fizeram sucesso, como "Cuide-se Bem" e "Descer a Serra". Mas depois do disco você saiu da Som Livre.
    Acabei migrando para Warner, provocando ciúme na Som Livre. A Warner me dava um projeto mais discográfico, menos televisivo. Acho que o revide veio no festival de música da Globo, em 1981, o MPB Shell. Eu deveria ganhar com "Planeta Água", mas me deram o segundo lugar porque estava queimado. A Som Livre e a Globo tinham planos para mim que não iriam dar certo.

    Guilherme Arantes - Grandes Sucessos (CD)
    Guilherme Arantes
    l
    Comprar

    Que tipo de plano?
    Era uma proposta que no fim acabou ficando com o Fábio Jr. Ele tinha uma carreira de ator, podia participar da novela e da trilha sonora. A Som Livre queira que eu fizesse curso no Tablado [escola de teatro carioca], mas eu não quis sair do meu piano.

    A capa do disco mostra você caminhando na rua Buenos Aires, no Rio, sem mais ninguém. Mas não era para ser assim, não?
    A capa era para ser mais lisérgica e mais GLS. Tudo era andrógino na época, muitos cantores iam para essa coisa, seguindo Secos & Molhados. A Som Livre me queria mais espalhafatoso, uma capa totalmente andrógina, achei ridículo, e meio empurrei goela abaixo essa outra imagem. Assim cheguei ao mercado com um visual discreto.

    GUILHERME ARANTES
    QUANDO sexta (18), sábado (19), às 21h, e domingo (20), às 18h
    ONDE Sesc Belenzinho, r. Padre Adelino, 1.000
    QUANTO ingressos esgotados

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024