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    opinião

    Vazio deixado pelo fechamento da rede 2001 não é nada pequeno

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    22/12/2015 09h36

    O tempo corre rápido: há uns anos, ninguém podia imaginar um negócio mais seguro, mais próspero e feliz do que locadoras de vídeo e DVD. Boas, ótimas, ruins, especializadas ou não, para onde a gente olhasse havia uma.

    A 2001, cujo fechamento foi anunciado neste fim de semana, se destacava nesse panorama. Era, pode-se dizer, mais que uma locadora: além de ter um acervo muito superior ao de qualquer concorrente, seus funcionários eram, não raro, cinéfilos de carteirinha, capazes de indicar qualquer filme de qualquer gênero sem passar vergonha.

    Se isso já a tornava um lugar de sociabilidade, os cursos que promovia tinham, ainda, o papel didático de repassar informações sobre cinema aos interessados.

    Os espaços eram amplos (e, suponho, caros): lojas na av. Paulista, em Pinheiros, Cidade Jardim, Sumaré. A loja da av. Sumaré, por sinal, tinha o maior acervo para venda de filmes.

    De uns anos para cá, tudo degringolou. Primeiro foram os downloads (os filmes "baixados"), que surgiram em grande quantidade. Do blockbuster do momento a raridades inacreditáveis podiam ser encontrados: serviam à educação dos cinéfilos e da garotada que encontrava qualquer filme na internet.

    Junto veio a pirataria. Ela ocupa a rua Augusta, por exemplo, de forma tão ostensiva que por vezes é difícil passar pelas calçadas. Claro, há do melhor ao pior em termos de qualidade. Mas o preço é mais baixo do que o de uma locação, de maneira que, se o comprador tiver de jogar um disco fora por deficiência (não é raro) ou por não rodar em seu aparelho de DVD, o prejuízo não será grande.

    A tacada final veio com serviços como Netflix. Embora sejam deficientíssimos, recobrem certas áreas de grande aceitação (a começar pelas séries). A 2001 bem que tentou: ofereceu, entre outros, serviço de entregas. Mas não ficava muito barato.

    Tentou trabalhar as vendas on-line. No entanto, mesmo o setor de vendas já estava minado pela concorrência das grandes livrarias.

    A questão é: já não usávamos a 2001 com a frequência necessária à sustentação das lojas. Não era mais viável, mas vai fazer falta: a rede de livrarias terá sempre um estoque de atualidade à venda. O pirata da esquina, diga-se, também. Mas e o velho filme, que foi editado há cinco anos e se esgotou? Onde será encontrado? Até agora sabia-se que "na 2001 tem".

    Ou seja, o vazio que ficará não é nada pequeno.

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