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    CRÍTICA

    Melodrama sufoca trama sobre luta feminista por direito ao voto

    INÁCIO ARAUJO
    DE CRÍTICO DA FOLHA

    24/12/2015 02h04

    Divulgação
    As atrizes Anne-Marie Duff e Carey Mulligan em cena do filme sobre o movimento feminista britânico do início do século 20
    As atrizes Anne-Marie Duff e Carey Mulligan em cena do filme sobre o movimento feminista britânico do início do século 20

    O melhor de "As Sufragistas" vem no final, quando são apresentadas cenas originais de demonstrações do movimento das mulheres britânicas pelo direito ao voto, no começo do século passado.

    A escolha do tema é perfeita: trata-se de evocar o primeiro movimento feminista do Ocidente, hoje esquecido em função do que aconteceu posteriormente. Estamos na Inglaterra do início do século passado, basicamente a era do rei Eduardo 7º, e um grupo de mulheres britânicas luta pelo direito ao voto.

    Parece um direito elementar, mas não era. Aliás, sejamos francos, o melhor do filme vem mesmo ao final da trama, com os pequenos mas preciosos filmes da época sobre o movimento e, depois, uma espantosa lista com o ano em que vários países cederam enfim às mulheres (acredite: o Brasil está bem longe de fazer feio nessa listagem).

    À parte isso, o início é bastante promissor: o longa enfatiza as sórdidas condições de vida do proletariado naquele momento, não deixando de lembrar o quanto são ainda piores as condições de trabalho das mulheres (sem contar a dupla jornada em casa).

    Maud Watts (Carey Mulligan) é uma das trabalhadoras em uma lavanderia londrina. Ela é encarregada de conduzir o drama, tanto mais que, no início, não toma conhecimento da luta já desenvolvida por algumas mulheres.

    Sarah Gavron, diretora do filme, conduz a sra. Watts da alienação à participação total, ao mesmo tempo em que, pouco a pouco, limita o caráter político da narrativa e a conduz ao melodrama. E, creia, ele virá: da revelação do assédio de seu chefe, em outros tempos, à expulsão de casa pelo marido, o calvário de Maud Watts é que dará o tom do filme.

    Mas não será só: a repressão da polícia, a traição dos políticos –tudo isso será contemplado e ajudará, na verdade, a permitir que o aspecto mais polêmico (e mais atual, pode-se convir) dessa luta original seja tornado lateral: a luta das sufragistas radicais, que hoje nos parece um direito tão óbvio, foi levada a ferro e fogo, e usou não raro métodos que hoje seriam chamados de "terroristas".

    Com seus vários deslizes melodramáticos, como a bem britânica falta de brilho na filmagem, o longa se enquadra bem na categoria de "filme de tema", mas já por evocar esse tema sufocado pelo tempo merece atenção; por, ainda que timidamente, atualizá-lo (ao mostrar que lutas sociais boas não são necessariamente coisa do passado), merece ainda mais atenção.

    AS SUFRAGISTAS
    (Suffragette)
    DIREÇÃO Sarah Gavron
    ELENCO Anne-Marie Duff, Helena Bonham Carter, Meryl Streep
    PRODUÇÃO Reino Unido, 2015, 14 anos
    QUANDO estreia nesta quinta (24)
    AVALIAÇÃO bom

    Edição impressa

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