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    crítica

    Arquitetura do Museu do Amanhã não se sobrepõe a sua curadoria

    FABIO CYPRIANO
    DE ENVIADO ESPECIAL AO RIO

    26/12/2015 02h15

    Ricardo Borges/Folhapress
    Interior do cubo Vida, parte do eixo Terra do Museu do Amanhã
    Interior do cubo Vida, parte do eixo Terra do Museu do Amanhã

    Desde a criação do Guggenheim de Bilbao, projetado por Frank Gehry e inaugurado em 1997, muito se discute sobre o papel da arquitetura dos museus e o caráter espetacular das construções, que poderiam se sobrepor a seus programas.

    O espanhol Santiago Calatrava incorporou estes debates e criou, com o Museu do Amanhã, um edifício impressionante, baseado nas catedrais medievais, com imensos pés direitos e vitrais como recurso para iluminação.

    A questão no Rio de Janeiro é que o espetacular não se sobrepõe ao programa do museu, já que seu curador, Luiz Alberto Oliveira, vem trabalhando em sua concepção há cinco anos.

    Não se trata apenas de um grande edifício, mas de uma integração quase inédita no país. Quase porque ali, na mesma praça onde o Museu do Amanhã foi construído, está o Museu de Arte do Rio, inaugurado de forma semelhante: arquitetura e programa concebidos juntos.

    Melhor, não se trata de um projeto de caráter excludente, como vem ocorrendo em muitas partes do mundo. Ambos os museus são ferramentas de integração com as comunidades locais, ao mesmo passo que representam um programa cultural complexo.

    No caso do Museu do Amanhã, trata-se especialmente de um lugar que reflete sobre o presente, com ênfase na responsabilidade do exercício da cidadania. Para tanto, o museu possui uma narrativa envolvente, no segundo andar, que aborda cinco eixos: Cosmos, Terra, Antropoceno, Amanhãs e Nós.

    No primeiro, por exemplo, um portal em formato de ovo recebe um filme dirigido por Fernando Meirelles, explicando de forma imersiva que tudo se relaciona no Cosmos.

    Para cada um desses eixos há uma arquitetura específica, que abarca recursos digitais. No centro dos pontos com explicações mais genéricas há informações que podem ser buscadas individualmente pelos visitantes.

    É em um pequeno espaço à direita da entrada do Museu do Amanhã, local denominado Laboratório de Atividades do Amanhã, que a nova instituição apresenta uma vertente transgressora. Lá o grupo dinamarquês Superflex apresenta a mostra "É Permitido Permitir".

    Em dois projetos são problematizadas questões de direitos autorais, como o "Free Beer", aberta a quem quiser testar, no qual uma receita de cerveja é recriada em parceria com uma cervejaria local.

    Mas o projeto mais inusitado dos dinamarqueses, que irá funcionar a partir de janeiro, é o "Passeio das Baratas", no qual o público deve visitar o museu com fantasias de baratas, "organismos com 250 milhões de ano, dos mais resistentes do planeta", como explica Oliveira.

    Já realizada no Science Museum, em Londres, a experiência ganhou cor local no Rio, com as fantasias feitas por artesãos da escola de samba Vizinha Faladeira. O novo museu fala sobre o presente e o futuro sem cair em mero didatismo.

    O jornalista FABIO CYPRIANO viajou a convite do Santander

    MUSEU DO AMANHÃ
    ONDE pça. Mauá, nº 1, Rio
    QUANDO de terça a domingo, das 10h às 18h
    QUANTO R$ 10 (grátis às terças)

    Edição impressa

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