• Ilustrada

    Sunday, 19-May-2024 20:29:49 -03

    CRÍTICA

    Sem exageros, Cauby Peixoto adapta sua voz à bossa nova

    LUIZ FERNANDO VIANNA
    DE ESPECIAL PARA A FOLHA

    27/12/2015 02h03

    A bossa nova não é um repertório, e sim o poder de João Gilberto para transformar o máximo em mínimo, depurando os excessos até que o essencial forme uma coesa célula de som.

    Assim sendo, nada menos bossa nova do que Cauby Peixoto, com suas sílabas prolongadas, sua interpretação afetada, sua falta de concisão. Mas aí vem ele com mais um disco dedicado ao estilo. E não vem mal.

    À sua maneira, Cauby é como João Gilberto: adapta qualquer música ao seu jeito de cantar. Para quem gosta ou respeita, é bonito ouvi-lo em "Até Quem Sabe" (João Donato e Lysias Enio), sendo suave, inclusive no scat final, acompanhado pelas citações do piano de Alexandre Vianna à linguagem de Donato.

    Responsável pela maioria dos arranjos, Vianna imprime o que nem sempre sobrevive nos trabalhos de Cauby: bom gosto. A instrumentação discreta dá ao cantor a possibilidade de brilhar sem exagerar.

    Ainda assim, Cauby perde a medida em passagens de "Este Seu Olhar" e "Wave" (ambas de Tom Jobim). Quando se contém um pouco, o resultado é melhor, casos de "Dindi" (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira) e "Preciso Aprender a Ser Só" (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle).

    "Ilusão à Toa" e "Eu e a Brisa", de Johnny Alf, são músicas que o cantor conhece tão bem que os eventuais exageros já estão enfronhados na interpretação, encantando até por isso mesmo.

    "Samba do Avião" (Tom Jobim) merece nota especial, por ter sido lançada por Cauby em 1962 e ser uma declaração de amor ao Rio, cidade onde construiu sua carreira– ele mora em São Paulo hoje.

    Ressalta o biógrafo Rodrigo Faour que Cauby é um intérprete do repertório da bossa nova desde os primórdios do estilo, apesar da rejeição de muitos bossanovistas a cantores como ele. Não é pequena tal coragem.

    Conta o produtor Thiago Marques Luiz que, durante sua última e preocupante internação (no início deste ano), Cauby lhe pediu para fazer um disco de bossa. Não é pequeno o valor de tal escolha.

    LUIZ FERNANDO VIANNA é autor de "Aldir Blanc - Resposta ao Tempo" (Casa da Palavra).

    A BOSSA DE CAUBY PEIXOTO
    ARTISTA Cauby Peixoto
    GRAVADORA Biscoito Fino
    QUANTO R$ 29,90
    AVALIAÇÃO bom

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024