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    Grupo Os Satyros filma orgia com 60 pessoas em 'Filosofia na Alcova'

    GUILHERME GENESTRETI
    DE SÃO PAULO

    05/01/2016 02h20

    Salvo se houver alguma pornochanchada obscura a destroná-los, é bem possível que seja d'Os Satyros o posto de promotores da maior bacanal do cinema brasileiro.

    Em uma das cenas de "A Filosofia na Alcova", filme ainda sem data para estrear, preenchem a tela mais de 60 pessoas, espremidas entre apetrechos sadomasoquistas e muita pele de fora.

    DEPOIMENTO: É duro desempenhar à altura na suruba cênica

    "A gente anunciou nas redes sociais, e aí foi aparecendo gente", diz Ivam Cabral.

    Ele divide a direção com Rodolfo García Vázquez. "A ideia não era fazer um filme explícito, mas os atores se entregaram, uns treparam para valer."

    Cabral e Vázquez são os criadores da companhia de teatro experimental paulistana, com 26 anos de carreira, que se aventura em sua segunda incursão no cinema depois de "Hipóteses para o Amor e a Verdade" (2013).

    "A Filosofia na Alcova" leva às telas romance publicado clandestinamente pelo marquês de Sade (1740-1814) sobre dois libertinos que se propõem a dar educação sexual a uma garota virgem.

    Tudo transcorre em meio à ebulição ideológica da França revolucionária: entre os divãs da alcova, conceitos como "submissão" e "posição" descambam da retórica para todo o tipo de prática sexual.

    "A libertinagem é a única forma de se conhecer a verdadeira essência da vida", leciona um dos personagens.

    Boa parte do elenco é formada pelos atores da companhia, que vivem no longa os mesmos papéis da peça homônima, marco da produção d'Os Satyros nos anos 1990 e ainda em cartaz –hoje com outros intérpretes– na sede do grupo, na praça Roosevelt.

    "Sade passou a ser a nossa grande referência no teatro. Queríamos isso no cinema também", afirma Cabral, que ainda roteirizou o filme e cantará na trilha sonora.

    'TELA QUENTE'

    No longa, o mundo fora das paredes da alcova ganha os tons ocres de São Paulo. Um dos libertinos, vestido em trajes do século 18, sobrevoa num helicóptero a favela de Paraisópolis. Uma carruagem, puxada por escravos gêmeos, cruza o centro. E uma limusine, dessas alugadas por meninas debutantes, trafega cheia de jovens nus.

    "Queríamos fugir do realismo, que marca o cinema brasileiro. Nossa linguagem teatral é outra. Daí essa mistura de referências", diz Vázquez.

    Segundo ele, a produção toda correu em esquema de guerrilha: o helicóptero era do pai de uma das atrizes, a fábrica que faz as vezes de alcova, do pai de outra.

    "Filmar o 'Hipóteses' foi como uma espécie de faculdade: não sabíamos nem como lançar um filme", conta.

    Eles planejam filmar outro texto do grupo, "Pessoas Perfeitas", ainda em 2016. Já "A Filosofia" deve tentar festivais antes de entrar em circuito.

    "Sabemos que não vai estrear nos cinemões", diz Vázquez. "Não é um filme assim 'Tela Quente', apesar de ser uma tela bem quente, né?"

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