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    CRÍTICA

    Julián Fuks encontra boa voz na trama sobre exílio 'A Resistência'

    GIOVANNA BARTUCCI
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    10/01/2016 02h15

    "Pode o exílio ser herdado?" –é essa pergunta que "A Resistência", de Julián Fuks, busca responder. É por meio de repetir, recordar e elaborar o romance familiar que o autor-narrador refaz o percurso entre a "origem" e o "destino", constituído pela experiência de se sentir estrangeiro.

    No livro escrito em tributo a Emi, irmão adotivo de Fuks, o protagonista Sebástian dedica-se a reconstruir a história familiar e a dar um significado aos desdobramentos emocionais da adoção. Aqui sobrepõem-se a ditadura militar argentina e a daqueles que por ela foram atingidos.

    Mais ainda: sobrepõem-se os autores-narradores-protagonistas de "Procura do Romance" (2011), livro anterior de Fuks, e de "A Resistência".

    De fato, é Sebastián que nos conta do sofrimento do "irmão adotado", no que diz respeito à experiência de um exílio autoimposto em relação à família adotiva,que narra sua procura incessante do romance possível, capaz de aplacar o sentimento de se sentir estrangeiro em terra natal.

    Divulgação
    o escritor Julián Fuks <M> ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM*** *** FOTO EM ARTE E NÃO INDEXADA ***
    Retrato do escritor paulistano Julián Fuks, autor de 'A Resistência'

    Não à toa, escreveu "um livro inteiro ['Procura do Romance'] a partir da experiência de caminhar pelas ruas de Buenos Aires [...]. Queria [...] que eu me descobrisse argentino pela simples aptidão de me camuflar", afirma o protagonista em "A Resistência".

    Se a criação literária é o resultado da relação próxima e distante do escritor com a realidade, é neste momento que se torna possível reconhecer a literatura de Julián Fuks.

    Com apenas dois romances publicados, que dialogam entre si, é com o seu Sebastián-Julián, um "narrador não confiável", no limite entre realidade e ficção, história e memória, que Fuks encontra na literatura a sua morada.

    "Um direito de asilo para aqueles que nos chegam de um terra estrangeira, para todos aqueles que migram", como diria JB Pontalis, a respeito da psicanálise.

    GIOVANNA BARTUCCI é psicanalista, autora de 'Onde Tudo Acontece - Cultura e Psicanálise no Século 21' (Civilização Brasileira).

    A RESISTÊNCIA
    AUTOR Julián Fuks
    EDITORA Companhia das Letras
    QUANTO R$ 34,90 (144 págs.)

    Edição impressa

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