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    Bowie sempre nos acompanhou, diz Thedy Corrêa, do Nenhum de Nós

    MARIA CLARA MOREIRA
    DE SÃO PAULO

    12/01/2016 15h21

    "Caiu um mundo na minha cabeça", afirmou o vocalista Thedy Corrêa, do Nenhum de Nós, sobre a morte de David Bowie (1947-2016). "Ler sobre foi um horror. Foi uma tristeza daquelas que doem de verdade. Deu um aperto no coração."

    Em entrevista à Folha, o músico falou sobre a influência do ídolo, que ajudou a popularizar a banda gaúcha nos anos 1980 com a faixa "O Astronauta de Mármore", versão brasileira do clássico "Starman".

    Corrêa descobriu Bowie aos dez anos de idade, no disco "Aladdin Sane", que marcou sua formação musical. "No colégio, havia uma espécie de rádio em uma salinha pequena, que só tocava o que os alunos levavam na hora do recreio. Normalmente tocávamos Led Zeppelin, Black Sabbath, mas um colega levava Bowie", conta.

    Quando o amor por música levou à criação da banda Nenhum de Nós, o impasse para decidir quem seria o vocalista passou pelo crivo do mestre. "Testamos todos os membros até tocar 'China Girl', quando descobrimos que eu podia cantar com registro grave. Bowie sempre nos acompanhou."

    A banda deslanchou com Corrêa nos vocais e a faixa "Camila", do disco homônimo de 1987, o primeiro do grupo. A boa recepção levou à gravação de um segundo álbum, para o qual não tinham repertório.

    A escolha mais óbvia, como não podia deixar de ser, foi Bowie. Antes de "Starman", "Ashes to Ashes" e a própria "China Girl" foram cotadas, mas a melodia da primeira levou a melhor.

    "A gente começou a tocar a música enquanto relaxava no estúdio durante as gravações do segundo disco. Foi quando o produtor Reinaldo Barriga ouviu e achou sensacional. Ele sugeriu que fizéssemos uma versão em português, como uma homenagem", diz Corrêa.

    O vocalista conta ter expressado certa relutância antes de aceitar. Para compôr a letra, debruçou-se sobre a rotina dos astronautas e do próprio repertório do Bowie, em trabalho quase artesanal. Nascia "O Astronauta de Mármore".

    "O verso 'quero um machado pra quebrar o gelo', por exemplo, é de 'Ashes to Ashes'", explica o músico.

    A letra da canção conta a história de uma nave espacial que volta da Lua e fica na zona escura, na qual a comunicação com a Terra é interrompida.

    "Foi uma versão de fã homenageando o ídolo.", afirmou. Segundo ele, conseguir a autorização do músico britânico para o uso da música não foi fácil. "Tivemos que mandar uma fita cassete para a Inglaterra. Quando ela chegou, pediram uma tradução da letra, do português para o inglês. O processo demorou, até atrasou o lançamento do disco."

    Ele viajou a Londres para agradecer pessoalmente a mulher encarregada da gravadora, que presenteou com livros sobre o Brasil e flores. Ela disse que o próprio Bowie aprovou a canção.

    O resultado está em "Cardume", segundo disco da banda lançado em 1989. A música estourou no Brasil, mas o sucesso trouxe também críticas, entre elas, da Folha. Corrêa não se abala: "Se a versão foi um crime, então ele já prescreveu".

    Em 1990, a turnê de Bowie o trouxe ao Brasil, onde o músico fez referência a "O Astronauta de Mármore" durante show em São Paulo. "Vou tocar uma música que vocês conhecem em português", declarou. Puxou "Starman".

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