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    Análise

    Ettore Scola sobreviveu ao mesclar popular e erudito em seus filmes

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    19/01/2016 21h31

    À primeira vista, é difícil localizar Ettore Scola na geração dos cineastas italianos que começaram a filmar nos anos 1960. De certa forma, ele está perto de Marco Bellocchio ou Bernardo Bertolucci ou mesmo Pasolini, na categoria de diretores "cultos", que constituiriam quase uma segunda geração do neorrealismo.

    Entre esses, porém, Scola, morto nesta terça (19), aos 84 anos, foi o mais próximo, por seus temas e pela abordagem da mise-en-scène, do cinema de inspiração popular, derivado da grande tradição cômica italiana: a de Totó, como ator, ou de cineastas como Monicelli ou Dino Risi.

    Alessandro Bianchi/Reuters
    Italian director Ettore Scola waves as he arrives during a red carpet for the movie "Che Strano Chiamarsi Federico - Scola racconta Fellini" during the 70th Venice Film Festival in Venice September 6, 2013. The movie debuts at the festival. REUTERS/Alessandro Bianchi (ITALY - Tags: ENTERTAINMENT HEADSHOT) ORG XMIT: ASB582
    Ettore Scola durante lançamento de 'Que Estranho Chamar-se Federico' no festival de Veneza, em 2013

    Seus filmes sempre trouxeram mais a abordagem calorosa de temas ou personagens do que o pensamento abstrato que se impôs a esse ex-estudante de direito e jornalista que chegou ao cinema em 1953 e firmou-se, primeiro, como roteirista.

    Não por acaso, aliás, foi um dos roteiristas de "Aquele que Sabe Viver" (1962), talvez a obra-prima de Risi, pouco antes de se dedicar a seu primeiro trabalho como diretor, "Fala-me de Mulheres" (1964).

    É nos anos 1970, no entanto, que seu nome se tornará popular entre os espectadores, primeiro com "Ciúme à Italiana" (1970), que dá o prêmio de melhor ator em Cannes a Marcello Mastroianni.

    Assista ao trailer

    O filme dá início ao momento mais bem-sucedido de sua carreira, com "Nós que nos Amávamos Tanto" (1974) e "Feios, Sujos, Malvados" (1976), pelo qual ganha o prêmio de melhor direção em Cannes. Seguem-se as incursões históricas de "Um Dia Muito Especial" (1977), o mergulho no velho Casanova de "Casanova e a Revolução" (1982), a tentativa de resumo musical do século 20 em "O Baile" (1982), entre tantos outros filmes que atestam o caráter misto, popular e erudito de Scola.

    Talvez seja essa característica que lhe tenha permitido sobreviver ao declínio italiano sem que seus filmes deixassem de fazer sucesso —ao menos relativo— no exterior. E, talvez não por coincidência, essa carreira chegaria ao final no encontro de "Que Estranho Chamar-se Federico" (2013), retrato de um homem e relato de uma longa amizade com Federico Fellini, talvez aquele que melhor soube, depois de Chaplin, na história do cinema, melhor articular sentimentos e ideias. Talvez seja Fellini, afinal, a grande referência de Scola.

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