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    Longa 'Que Viva Eisenstein!' dramatiza romance gay do cineasta

    GUILHERME GENESTRETI
    DE SÃO PAULO

    25/01/2016 02h00

    Divulgação
    Elmer Bäck (de paletó branco) em cena como Sergei Eisenstein
    Elmer Bäck (de paletó branco) em cena como Sergei Eisenstein

    Dá para dividir em duas fases a obra do soviético Sergei Eisenstein (1898-1948).

    A primeira ditou os rumos do cinema mundial com "O Encouraçado Potemkin" e "A Greve", gerados no calor da Revolução Russa, e a segunda, que originou "Ivan, o Terrível", foi mais calcada em indivíduos e seus dilemas subjetivos do que em grupos sociais e suas convulsões.

    Para o diretor inglês Peter Greenaway, a cisão é culpa de uma tórrida estadia do cineasta vanguardista no México em 1931, na qual ele teria se entregado aos sabores picantes do país latino e aos braços de um mexicano "caliente". É o que ele imagina no polêmico "Que Viva Eisenstein! Dez Dias que Abalaram o México", filme que estreou na quinta (21).

    "Longe da Rússia comunista ele pôde se libertar do materialismo histórico e dar asas à subjetividade da história", diz Greenaway à Folha.

    Na trama, Eisenstein (Elmer Bäck) viaja à cidade mexicana de Guanajuato para preparar o documentário "¡Que Viva México!", nunca finalizado. "Apesar de ter sido uma falha, Eisenstein sempre falou com entusiasmo de sua passagem por lá", diz o inglês.

    A razão da empolgação, na visão de Greenaway, tem a ver com o guia de Eisenstein na cidade, o jovem Palomino (Luis Alberti), que logo irá se provar bem mais do que um mero introdutor na cultura local.

    CONSTRUÇÃO SIMÉTRICA

    Os dois viram amantes, numa semiexplícita cena de iniciação homossexual, e a cabeça de Eisenstein, no filme um virgem de 33 anos, entra em parafuso. O trecho em questão se dá precisamente no meio do longa, todo construído simetricamente por Greenaway, ex-pintor que migrou para o cinema nos anos 1960.

    "Olhe para a sua vida. O sexo não desempenha um papel fundamental nela? Talvez para um artista isso seja ainda mais verdadeiro", afirma o diretor.

    Greenaway já despiu Helen Mirren em "O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e o Amante" (1989) e Ewan McGregor em "O Livro de Cabeceira" (1996). "Que Viva Eisenstein!" traz tomadas, digamos, urológicas.

    O retrato gay de Eisenstein irritou a Rússia bem antes de o filme estrear no Festival de Berlim do ano passado. Segundo o diretor inglês, a fundação do cinema russo vetou acesso a material de arquivo sobre o cineasta quando soube do enfoque.

    "A homofobia faz parte dessa estratégia do governo Putin de demonizar o Ocidente", diz.

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