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    CRÍTICA

    Ruins, sambas-enredo de 2016 refletem um gênero exaurido

    LUIZ FERNANDO VIANNA
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    26/01/2016 02h02

    Manoel Soares/Agência O Globo
    Rio de Janeiro (RJ) - 06/01/1972 - Silas de Oliveira (compositor) - Foto Manoel Soares / Agência O Globo - Sem negativo ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O compositor Silas de Oliveira

    Lembrado por seu Império Serrano no Grupo de Acesso do Rio de Janeiro, Silas de Oliveira (1916-1972) —ou seu legado— está sendo maltratado pelas escolas do Grupo Especial no ano de seu centenário.

    As 12 composições mostram que o gênero samba-enredo, do qual Silas é o maior nome (com criações como "Aquarela Brasileira" e "Heróis da Liberdade"), está exaurido.

    E há autores de primeira linha no elenco de 2016, como Zé Katimba (Imperatriz Leopoldinense), Martinho da Vila e Arlindo Cruz (parceiros na Unidos de Vila Isabel), além dos também ótimos Dudu Nobre (Unidos da Tijuca), Wanderley Monteiro (Portela) e Fred Camacho (Salgueiro).

    Mas o gênero vem sendo massacrado, há anos, por uma conjunção de interesses comerciais que obriga os sambas a serem velozes e furiosos.

    Para arrecadar dinheiro, as escolas incharam para mais de 3 mil componentes. Mas o tempo do desfile de cada uma se restringe a 82 minutos, porque a maioria da plateia do Sambódromo, que paga caro, e a transmissão frenética e infantiloide da TV não suportam mais do que isso.

    As músicas, então, metralham palavras e se amparam em refrões fáceis para cativar o público. Salgueiro (cantando os malandros), e Portela (enredo indecifrável de Paulo Barros) se saíram bem nessa missão, assim como Mangueira e Vila Isabel.

    Já o refrão principal da Grande Rio —que rima emoção com coração, felicidade com cidade— e o da União da Ilha são de constranger crianças recém-alfabetizadas.

    É O AMOR

    O melhor samba é o da Imperatriz, ainda que o tema seja Zezé Di Camargo & Luciano. De maneira brilhante, Zé Katimba e cia. aproveitaram o famoso verso "É o amor...", com melodia e tudo. E há, em toda a composição, achados poéticos e melódicos.

    Por causa da crise econômica, as escolas não conseguiram patrocínios, o que deixou ainda mais patéticos enredos caça-níqueis —e sambas próximos disso— como os de Beija-Flor (citando a cidade mineira Nova Lima), Grande Rio (a paulista Santos), Unidos da Tijuca (agricultura) e União da Ilha (Rio olímpico).

    Também de mãos abanando após buscar dinheiro na Bahia e em Pernambuco, Mangueira (homenageando Maria Bethânia) e Vila Isabel (Miguel Arraes) têm, pelo menos, assuntos honestos e sambas idem.

    Cantando o velho tema do circo, a São Clemente não saiu dos clichês. Os sambas de Mocidade Independente (inspirando-se em Don Quixote) e Estácio de Sá (São Jorge) contam com bons momentos, mas deles já não nos lembraremos na quarta-feira de cinzas.

    Pouco do que se ouve neste ano honra a memória de Silas.

    LUIZ FERNANDO VIANNA é autor de "Aldir Blanc - Resposta ao Tempo" (Casa da Palavra).

    SAMBAS DE ENREDO 2016
    AUTORES vários
    GRAVADORA Escola De Samba/Universal
    QUANTO R$ 29,90

    Edição impressa

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