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    Oscar 2016

    crítica

    'O Menino e o Mundo' é um dos melhores do cinema nacional atual

    SÉRGIO ALPENDRE
    DE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    27/01/2016 02h43

    Convém esquecermos por um instante o clima de Copa do Mundo criado com a indicação de "O Menino e o Mundo" para o Oscar de animação. É bom para o filme, é notícia, mas o clima de festa não faz bem à reflexão crítica.

    Premiados ou não, alguns artistas elevaram a animação ao status de arte: Walt Disney, Tex Avery, Chuck Jones e Alexander Ptushko, por exemplo. Nos últimos anos, temos o elogiadíssimo animador japonês Hayao Miyazaki ("A Viagem de Chihiro").

    Com o belíssimo "O Menino e o Mundo", Alê Abreu sobe mais um degrau no longo caminho a ser percorrido para entrar no rol de gigantes.

    Seu filme narra a história de um menino que parte em busca do pai e, ao mesmo tempo, descobre o mundo e a força da imaginação. O traço simples segue a compreensão infantil das coisas, utilizando várias técnicas (giz, aquarela, lápis, colagens).

    A narrativa é poética e sensível sem ser sentimental, semelhante à de outro fera da animação, o holandês Michaël Dudok de Wit, cuja obra-prima, "Father and Daughter" (pais e filhas), de 2000, está no YouTube.

    Em alguns momentos, a tela se enche de cores, como numa aquarela escolar inconscientemente fauvista (uma espécie de versão simplória, mas com sua própria beleza, das telas de André Derain).

    Isso porque, obviamente, a escolha das cores e suas combinações não são bem as de uma criança. A não ser que fossem de um pequeno Mozart das artes plásticas.

    Em sua aventurosa busca, o menino se depara com procissões de homens com pernas de pau, carroceiros, animais estranhos, paisagens de sonho e até um Carnaval.

    Os poucos diálogos são ditos em reverso, como numa brincadeira infantil, o que ajuda a colocar o filme dentro de uma bolha peculiar. Essa é sua maior força.

    Podemos questionar o excesso de trilha sonora, mesmo levando em conta que um dos músicos participantes é o craque Naná Vasconcelos. A música torna-se excessiva porque é forte, com melodias marcantes, e, assim, satura.

    Trata-se, contudo, de um pequeno deslize entre uma série impressionante de acertos, que fazem deste filme uma das melhores coisas do cinema brasileiro recente.

    O MENINO E O MUNDO
    DIREÇÃO Alê Abreu
    PRODUÇÃO Brasil, 2013, livre
    QUANDO em cartaz

    Edição impressa
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