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    Charlie Kaufman volta à direção após sete anos com animação 'esquisita'

    GUILHERME GENESTRETI
    ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

    27/01/2016 02h15

    Na disputa pelo Oscar de melhor animação, as atenções do brasileiro "O Menino e o Mundo" estão mais voltadas ao gigante da Pixar, "Divertida Mente", o favorito na categoria. Mas outro longa, este mais adulto e independente, também deve dar trabalho.

    "Anomalisa", que estreia nesta quinta-feira (28) no Brasil, é o novo filme dirigido Charlie Kaufman, conhecido pelo roteiro engenhoso de cultuadas dramédias indie como "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" (2004) e "Quero Ser John Malkovich" (1999).

    É sua primeira animação, realizada em parceria com o animador Duke Johnson, e rompe um hiato de sete anos desde o último filme que Kaufman dirigiu, "Sinédoque, Nova York" (2008).

    "Fiquei sentado sozinho no meu quarto nesses anos todos", diz o nova-iorquino à Folha, logo após exibir "Anomalisa" no Festival de Veneza, em setembro. "Estou brincando com você. É que nesse meio-tempo eu não consegui fazer com que meus projetos vingassem: os estúdios estão cada vez mais fazendo filmes convencionais."

    MULTIPLICADO

    "Anomalisa" não é lá muito convencional. Toda encenada em stop-motion por marionetes, gira em torno de Michael (dublado por David Thewlis), palestrante motivacional que parece acometido pela síndrome de Fregoli: crê que todas as outras pessoas do mundo são um mesmo indivíduo, multiplicado.

    Na animação, os personagens que Michael encontra –sua mulher, o taxista, o recepcionista– têm a mesma voz (a do ator Tom Noonan).

    Todos menos Lisa, uma atendente de telemarketing sem graça e com baixa autoestima dublada pela atriz Jennifer Jason Leigh.

    Lisa e Michael estão hospedados no mesmo hotel onde se passa a maior parte da trama –uma dessas cadeias genéricas e impessoais cujas portas dos quartos se abrem com cartão magnético etc.

    "Todo mundo já esteve nesse tipo de hotel e sentiu aquilo de estar sozinho e não saber bem o que fazer", afirma Kaufman. "Fico pensando quem serão meus vizinhos de quarto, se roncam..."

    Arredio, o diretor se nega a comentar os temas do filme ("não me sinto confortável"), mas estão ali evidenciadas algumas das marcas do cineasta: o protagonista desmotivado, as tiradas existenciais sarcásticas, alguma referência pop aqui e ali e um clima geral de mau humor que fizeram de Kaufman uma espécie de "ídolo hipster".

    Ídolo que há anos tentar rodar um musical, "Frank or Francis", trama sobre um diretor de cinema que tem de confrontar um blogueiro raivoso. A produção teria participações de Steve Carell, Nicolas Cage e Jack Black.

    "É frustrante. Dos estúdios você nunca ouve a verdade sobre essa relutância deles [em aceitar o projeto], mas dá para especular: a história é excêntrica. E tem 50 músicas."

    Paramount Pictures/AP
    Equipe manipula boneco durante as gravações de 'Anomalisa
    Equipe de produção manipula um dos bonecos de 'Anomalisa' durante as gravações do filme

    "Anomalisa" foi bancado por uma campanha de financiamento coletivo na internet e rendeu a Kaufman o prêmio especial do júri em Veneza.

    TRANSA DE BONECOS

    Mesmo sendo uma animação, "Anomalisa" tem uma das sequências de sexo mais realistas do cinema atual. Realista não é bem a palavra, já que os personagens são bonecos.

    Mas é certamente uma das mais naturais: sem sutiãs que se abrem com facilidade ou barulhentos rompantes de lascívia acumulada. É tudo "desglamorizado", demorado até.

    "Queríamos que fosse uma cena de extrema vulnerabilidade entre os personagens", explica o diretor.

    Em outra das cenas mais comentadas em Veneza, Lisa canta "Girls Just Wanna Have Fun", hit oitentista de Cyndi Lauper. "A ideia inicial era ter 'My Heart Will Go On', a música do filme 'Titanic'", conta Kaufman. "Não conseguimos os direitos."

    ANOMALISA
    DIREÇÃO Charlie Kaufman e Duke Johnson
    PRODUÇÃO EUA, 2015, 14 anos
    QUANDO estreia nesta quinta (28)

    Edição impressa
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