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    CRÍTICA

    Ver Bethânia e Chico no palco compensa qualquer falta de ânimo

    JULIANA CUNHA
    EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

    28/01/2016 14h53 - Atualizado às 17h34
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    O Show de Verão da Mangueira costuma ser uma celebração da escola, uma das mais tradicionais do carnaval carioca. Mais do que o tema do samba-enredo do ano, a escola em si costuma ser o foco da noite. Não foi assim dessa vez, quando a homenageada da vez, Maria Bethânia, levou todos os holofotes.

    No palco, a bateria da escola e uma sucessão de artistas simpáticos à casa se concentravam sobretudo em músicas do repertório de Bethânia. Mariene de Castro, por exemplo, cantou "A Dona do Raio e do Vento". Tantinho da Mangueira cantou "Mora na Filosofia", além do samba "Maria Bethânia", um dos pontos altos da noite.

    Mart'nália, filha de Martinho da Vila [Isabel], foi de "Sonho Meu", mas pediu licença à bateria para cantar "Último Desejo", de Noel Rosa, que também era da Vila Isabel. Pretinho da Serrinha, cantou "Maricotinha". Sombrinha, ex-integrante do Fundo de Quintal, escolheu "Gota d'Água".

    Angela Ro Ro trouxe músicas próprias que Bethânia interpretou, como "Fogueira", e destacou o quanto essas gravações impulsionaram sua carreira. A apresentação mais burocrática foi a de Rosemary, que cantou "Fera Ferida" e "Eu Preciso de Você" estática no palco, em clima de festa de casamento.

    A fadista Carminho foi a primeira artista a criar uma verdadeira comoção no público, que se levantou tão logo ela subiu no palco. Cantou "Teresinha", fez dueto com Alcione em "Sangrando" e disse que já se sente da Mangueira. Esse é o terceiro ano que ela participa do show de verão da escola.

    Anunciado por Alcione como "o guri da Mangueira" e recebido com entusiasmo, Chico Buarque entrou tímido, reclamou do retorno, cantou baixo. Parecia estar ali por Bethânia e pela Mangueira, mas sem grande vontade de se apresentar —faz tempo, aliás, que ele não tem.

    Cantou "Anos Dourados" e recebeu Bethânia para "Olhos nos Olhos" e "Noite dos Mascarados". Foi completamente ofuscado pela amiga, mas ver os dois juntos no palco depois de 14 anos —a última vez foi em 2001, quando ela completava 35 anos de carreira— compensa qualquer falta de ânimo.

    Aos 69 anos —50 de carreira— Bethânia parece uma força da natureza. Cantou "Carcará", "Vento de Lá", "Reconvexo" e "O que é o que é". Na voz e na postura, nenhum traço de cansaço ou enfado com a carreira que abraçou aos 17 anos.

    Durante a apresentação, agradeceu à Mangueira dizendo que era uma honra que ela, "apenas uma menina de Santo Amaro [interior da Bahia]", fosse tema de um desfile da escola.

    Em entrevista à Folha após o show no Rio, ela disse que se confortava em saber que a homenagem maior era a Oyá (Iansã), seu orixá —o título do samba-enredo é "A Menina dos Olhos de Oyá". Não é verdade, a homenagem maior é mesmo a Bethânia, mas acredito que Iansã lhe dê essa licença.

    SHOW DE VERÃO DA MANGUEIRA
    ARTISTAS Chico Buarque, Maria Bethânia, Mart'nália, Pretinho da Serrinha, Angela Ro Ro, Carminho, Alcione
    ONDE: Tom Brasil

    Edição impressa

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