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    Ferreira Gullar relembra a infância e ditadura militar em livro de crônicas

    MAURÍCIO MEIRELES
    COLUNISTA DA FOLHA

    30/01/2016 02h34

    Murillo Meirelles
    BRASIL, 19-08-010 : Ferreira Gullar (Foto: Murillo Meirelles/Tratamento: Fujocka Photodesign e Henri Junqueira) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Retrato do poeta Ferreira Gullar, que lança coletânea de crônicas, posa para a revista 'Serafina'

    Ferreira Gullar gosta de falar da zoologia do maravilhoso: sereias, grifos, dragões, centauros -e até dos "animais esféricos" que, segundo Platão, foram a inspiração de Deus para criar a forma redonda do mundo.

    Como no cotidiano não há maravilhas assim suficientes para satisfazer as pessoas, ensina o poeta, o papel do artista é preencher tal vazio.

    "Eu escrevi que a arte existe porque a vida não basta, não? A vida é pouca, ela precisa de mais. A arte é a alquimia que transforma o sofrimento em alegria, a banalidade em beleza", afirma Gullar.

    Não à toa, esse é o tema da primeira crônica de "A Alquimia da Quitanda - Artes, Bichos e Barulhos nas Melhores Crônicas do Poeta": a arte existe porque faltam sereias e dragões. O livro, lançado pelo Três Estrelas, selo editorial da Folha, é uma reunião dos melhores textos que Gullar publicou como colunista do jornal entre 2005 e 2015.

    A compilação traz ainda uma seleção de memórias da infância no Maranhão, a luta contra a ditadura, o exílio e o desencanto, mais tarde, com o comunismo. "Não se trata de desilusão, minha posição é objetiva. Há que reconhecer que [o comunismo] deu errado. Mas ninguém se meteu naquilo por razões egoístas, todos queriam uma sociedade melhor. Não temos por que nos envergonhar", explica ele.

    A Alquimia Na Quitanda
    Ferreira Gullar
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    Mesmo com as lembranças de quando ser comunista era um risco, o cronista consegue garimpar uma história bem-humorada. Em 1968, foi preso porque a polícia achou em sua casa o original do livro "Do Cubismo à Arte Concreta" -e os agentes pensaram que "cubismo" se referia a Cuba. O causo fez outros presos rirem.

    Das memórias do Maranhão, sabe-se que o escritor jogou futebol -na categoria infantil do Sampaio Corrêa. Mas felizmente virou poeta, porque era, diz ele, um perna de pau.

    Além da curta carreira esportiva, também chega às livrarias a carreira de Gullar como compositor. "Cancioneiro" (Topbooks, R$ 79,90, 95 págs.) traz as letras que o poeta escreveu para melodias.

    São canções famosas como "Trenzinho Caipira" e "Borbulhas de Amor", tradução da faixa do mexicano Juan Luis Guerra cantada por Fagner, cuja introdução -"Quem dera ser um peixe..."- marcou a música brasileira.

    "O Fagner tem me ligado pedindo algo, mas não estou conseguindo fazer. Essas coisas a gente não faz só por querer", afirma Gullar.

    A ALQUIMIA DA QUITANDA
    AUTOR Ferreira Gullar
    EDITORA Três Estrelas
    QUANTO R$ 49,90 (288 págs.)

    Edição impressa

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