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    Órgão federal vai liberar construção de três prédios ao lado do Teatro Oficina

    GUSTAVO FIORATTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    01/02/2016 02h17

    Em "pouco tempo" o Iphan (Instituto do Patrimônio Artístico Nacional) deve aprovar o projeto de construção de três torres residenciais ao lado do Teatro Oficina, no bairro do Bixiga, região central de São Paulo, segundo a presidente do órgão federal, Jurema de Souza Machado.

    A aprovação pode ser emitida em "um ou dois meses", a depender de um ajuste de projeto exigido pelo órgão a seus responsáveis, diz. Os edifícios foram desenhados pela Sisan, braço imobiliário do Grupo Silvio Santos.

    "O projeto encaixota o teatro e encerra seu janelão de 100 m² na escuridão" com um empreendimento imobiliário "de impacto incalculável na obra de Lina Bo Bardi e Edson Elito", escreveu José Celso Martinez Corrêa, diretor do Oficina, em seu blog. A disputa com o setor imobiliário já dura ao menos 35 anos.

    Uma das principais características do Oficina é uma janela com cerca de 100 m² na lateral do prédio, com vista para a cidade. A construção das torres traz riscos de que a paisagem seja bloqueada.

    Além de tombado pelo Iphan, o espaço é protegido por órgãos de preservação do Estado e do município. No ano passado, o jornal britânico "Guardian" o elegeu o melhor teatro do mundo.

    No Iphan, o Oficina é tombado há seis anos. Nesse período, o órgão determinou que qualquer construção no terreno vizinho deverá ser realizada a partir de 20 metros do teatro. O tombamento permite que eventuais obras estejam até mais próximas do que esta distância, desde que não ocupem uma área delimitada por linhas que se inclinem 45 graus a partir das extremidades da janela.

    O Iphan e a Sisan não permitiram que a Folha tivesse acesso ao projeto da construção. O órgão de preservação diz que a proposta é de três torres, de 24, 27 e 28 pavimentos.

    "Qualquer tombamento estabelece uma linha de entorno, ou seja, um perímetro que vai proteger a visibilidade [do conjunto] e a sua compreensão", afirma Machado.

    Para o Iphan, "pelos valores do Oficina, essa janela é importante, mas o que foi elencado no tombamento como valor é a solução projetual interna do teatro", diz a presidente do instituto. "Ele não é um monumento solto, sempre foi um edifício entalado entre prédios, o valor dele é sobretudo a solução interna."

    Machado diz ainda que, embora possa fazer impedimentos, o Iphan tem limitações jurídicas e não pode "esvaziar totalmente a possibilidade de construção" de um terreno.

    "Se eu, como órgão federal, quiser dizer que o terreno tem que ter construção zero, tenho que indenizar, porque estamos tratando de uma área dentro de perímetro urbano. Eu estaria esvaziando a vocação econômica dela."

    Segundo Machado, o Ministério da Cultura e a Secretaria Municipal de Cultura fizeram ofertas de permuta de terreno recusadas pela Sisan. "Em novembro, o empreendedor passou a dizer que uma troca não interessava mais."

    Divulgação
    Imagem mostra a fachada do teatro Oficina (circulado em vermelho) e, a sua esquerda, os edifícios projetados pela Sisan. Projecao foi exibida em audiência com o Condephaat em 2013. Reproducao. ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Projeção apresentada pela arquiteta que representa o Oficina mostra como teatro ficaria após obras

    Eduardo Velucci, diretor da Sisan, diz que essas ofertas não foram consideradas satisfatórias. Ele afirma que não considera que haja disputa com o Oficina, mas um diálogo amistoso "e de trocas".

    De acordo com Machado, recentemente a Sisan reiterou que entraria com medida judicial para que o Iphan respondesse ao pedido de aprovação do projeto. "Então nós estamos respondendo", diz.

    Ela lembra que a aprovação não permitirá automaticamente a construção, pois o projeto ainda está sob análise no Condephaat (órgão de preservação estadual) e no Conpresp (municipal).

    Para a arquiteta Marília Gallmeister, que representa o Oficina nos debates sobre o tombamento, o impacto das três torres será mais extenso. "A média das alturas das edificações da região é baixa, e há 900 pequenos imóveis tombados no Bixiga."

    Para ela, as torres abrem o precedente para que mais construções altas sejam projetadas no bairro em seguida.

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