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    Com programação reduzida, Mostra de Teatro de SP terá racismo como tema

    GUSTAVO FIORATTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    02/02/2016 02h21

    Com grade de dez peças, a terceira edição da MITsp (Mostra Internacional de Teatro de São Paulo), que começa no dia 4 de março, retorna às questões sobre a construção de narrativas, como se quisesse nos dizer que não, esse não é uma velho problema.

    O diretor artístico da mostra, Antonio Araújo, exemplifica a abordagem, considerada por ele um dos pilares de sua curadoria neste ano: o espetáculo "Cinderela", que abre o festival no Auditório Ibirapuera, retoma a conhecida fábula dos irmãos Grimm para reconstruí-la linearmente de forma "toda estranha".

    A peça tem pássaros que se estatelam em uma casa de vidro. "O espectador percebe a colisão, mas em nenhum momento a montagem materializa isso visualmente", adianta.

    Stefan Okolowicz
    Cena da peça "(A)polônia" (Apollonia), do grupo polonês Nowy Teatr, com direção de Krzysztof Warlikowski CREDITO: Stefan Okolowicz ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    "(A)polônia", do polonês Krzysztof Warlikowski, terá sessões no Sesc Pinheiros

    Em destaque este ano, o autor e diretor francês Joël Pommerat traz para o festival duas montagens: "Ça Ira", ficção política contemporânea inspirada na Revolução Francesa e desenrolada com menções à direita em ascensão na Europa; e "Ciderela", adaptação da conhecida fábula dos irmãos Grimm.

    Do Congo, virá a peça "A Carga". Com direção e interpretação de Faustin Linyekula, a montagem tem traços coreográficos, e o artista também faz uso de textos que abordam situações políticas de seu país de origem.

    Questões sobre a opressão vividas pelos negros também tingem o espetáculo Revolting Music, que tem trilha sonora desenvolvida a partir de pesquisa sobre canções de protestos e situações vividas por movimentos estudantis na África do Sul. O espetáculo é assinado pelo músico e performer Neo Muyanga.

    Os ingressos para "Natureza Morta", do grego Dimitris Papaioannou, também podem se esgotar rapidamente, devido ao sucesso do artista em festivais europeus e também pela popularidade dos vídeos que reproduzem trechos de seus espetáculos na internet. Papaioannou tem domínio na criação de imagens em cena que mais parecem pinturas, razão do título de seu espetáculo.

    Da Alemanha, o festival traz o experimento "100% City", projeto encabeçado por Helgard Haug, Daniel Wetzel e Stefan Kaegi, da companhia Rimini Protokoll.

    O grupo recruta não-atores nas cidades por onde passa. Ao vivo, as pessoas chamadas respondem a uma espécie de pesquisa de opinião -não espere nada convencional. O projeto foi realizado em 23 cidades, incluindo Amsterdã e Tóquio. Na MITsp, o projeto vai se chamar "100% São Paulo".

    A companhia Teatro de Narradores e o grupo Ultralíricos, dirigido por Felipe Hirsch, compõem a representação nacional. O primeiro vai apresentar trabalho desenvolvido junto a haitianos que vivem em São Paulo, "Cidade Vodu"; o segundo encena trechos ou adaptações de textos latino-americanos.

    FALTA DE VERBA

    "Exhibit B", do sul-africano Brett Bailey, era uma atração forte dentro do eixo temático sobre racismo, mas foi cancelada. A peça se desenvolve em perspectiva de releitura sobre o que foram os zoológicos humanos. Fazia oposição à opressão sofrida pelos negros, segundo o artista, mas foi atacada, em vários países, pelo movimento negro sob acusação de racismo.

    Segundo Araújo, a peça não foi cancelada pela polêmica ou por ameaças de sabotagem, mas por falta de verba.

    Esse não foi o único caso de cancelamento, e Araújo diz que neste ano a MITsp foi afetada pela crise e principalmente pela alta do dólar e do euro. "A gente tinha uma programação maior e o repertório internacional sofreu uma redução, assim como aconteceu com muita gente", diz. Em 2015, foram 12 atrações, duas a mais que neste ano.

    De acordo com o SalicNet, sistema do Ministério da Cultura, a mostra apresentou orçamento de R$ 5,9 milhões, dos quais foram aprovados R$ 4,6 milhões para captação via Lei Rouanet. O informe também diz que há patrocínio de pelo menos R$ 1,2 milhão, valor que não chega a um terço do previsto inicialmente.

    Segundo a MITsp, o valor do festival está estimado em R$ 3,4 milhões –no ano passado, foram R$ 3,28 milhões.

    MITSP
    QUANDO 4 a 13 de março
    QUANTO grátis a R$ 20 (à venda a partir de 18/2 pelo ingressorapido.com.br e pelo sescsp.org.br)
    ONDE vários locais (veja programação no site )

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