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    opinião

    Torres ao lado do Teatro Oficina são escândalo cultural e político

    JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA
    DE ESPECIAL PARA A FOLHA

    03/02/2016 02h15

    Essas torres são as da Sisan Empreendimentos Imobiliários, que faz parte do Grupo Silvio Santos e irão, se aprovadas, sufocar o Teat(r)o Oficina y o Bexiga.

    Jurema Machado [presidente do Iphan, Instituto do Patrimônio Artístico Nacional], em seu "Laudo do Tombamento" do Teat(r)o Oficina, tem a réplica necessária à matéria desta segunda (1º) da "Ilustrada".

    Tenho certeza que ela acredita até hoje totalmente no que escreveu. Mas, de uma maneira ou de outra, sinto que paira sobre a cabeça de Jurema a Inquisição, como a que caiu sobre a cabeça de Galileu Galilei. Ou mesmo a ameaça de ser queimada como Joana d'Arc.

    É um escândalo cultural e político isso acontecer com uma autoridade e pessoa tão fundamental, que, assim, não pode fazer o que pensa para o bem do patrimônio histórico y artístico brasileiro.

    Leia com atenção as palavras de Jurema, que resumem o parecer do tombamento do Teat(r)o Oficina em 2010. É o que ela, como arquiteta, urbanista, técnica e pessoa afetiva, pensa, sente e vive hoje ainda. Resumo do que importa agora:

    "É imediato associar o Teatro Oficina a esse contexto por duas vias: tanto o Oficina pode ser tomado como elemento-chave de um processo de reabilitação, quanto a preservação dos valores do bairro é essencial à vitalidade do Oficina."

    "O que não fica claro –e deveria merecer uma avaliação mais aprofundada– é por que uma cidade como São Paulo, onde se tem a maior e mais consolidada experiência de aplicação de instrumentos urbanísticos (...) não elegeu o Bexiga para a aplicação prioritária desses mecanismos, justo uma região tão bem localizada, que tem potencialmente muito mais valor para São Paulo –até mesmo sob o ponto vista estritamente financeiro– pela sua diversidade cultural do que pela quantidade de metros quadrados que se possa construir ali."

    "Edificações com destinações comerciais e de serviços, que não tenham outros requisitos locacionais a não ser a acessibilidade, podem ser deslocadas dentro do espaço da cidade utilizando instrumentos dessa natureza. Já o lugar das práticas culturais é ali, e só ali. Se não for ali, o Bexiga como tal deixará de existir."

    "Jurema Machado. Rio de Janeiro, 24 de junho de 2010"

    Conclusão do Processo de tombamento nº 1.515-T-04:

    "Considerando o Parecer da Relatora e após discussão do Conselho, foi a seguinte a decisão final: Pela inscrição do Teatro Oficina no Livro de Tombo Histórico e no Livro de Tombo das Belas Artes."

    "Pela reavaliação posterior, pelo Iphan, da delimitação do entorno, tendo em vista tratar-se de bem a ser inscrito também no Livro de Belas Artes e não exclusivamente no Livro Histórico."

    "E pela manifestação, ao ministro da Cultura, de que o Ministério e o governo federal identifiquem mecanismos que viabilizem a destinação do terreno contíguo ao Teatro Oficina para um equipamento cultural de uso público, utilizando mecanismos tais como a aquisição, a desapropriação ou a conjugação destes com instrumentos urbanísticos a serem identificados em cooperação com o Município e com o Estado de São Paulo."

    ...a Terra gira... stá girando.

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