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    crítica

    Diretor faz de boa intenção bom cinema no filme indie 'Tangerine'

    SÉRGIO ALPENDRE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    04/02/2016 02h12

    Confrontado com "Tangerine", filme de Sean Baker, o crítico habituado a ver um grande número de produções contemporâneas poderá ter duas preocupações iniciais.

    Primeiro: é um filme independente americano, com selo Sundance de qualidade e tudo mais. Sabemos a pobreza estética que parece nortear esse tipo de cinema dos EUA,e passamos a torcer para que "Tangerine" seja uma exceção.

    Segundo: é um filme preocupado com a inclusão social. As protagonistas são travestis, mas não de uma maneira almodovariana, ou seja, inseridas na trama de algum modo. Elas a protagonizam: suas vidas e seus temores compõem a história.

    Esse tipo de trama costuma deixar de lado o cinema para se preocupar apenas com as boas intenções. Vemos bastante disso, e são raros os filmes que valem alguma coisa para além da função social.

    O fato de ter sido filmado em iPhone é uma preocupação menor. Um diretor competente sabe adequar o modo como narra sua história ao orçamento possível.

    Divulgação
    Créditos: Divulgação Legenda: Cena do filme TANGERINE ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Mickey O'Hagan e Kitana Kiki Rodriguez em cena do longa 'Tangerine', dirigido por Sean Baker

    Felizmente, o filme vai nos desarmando aos poucos com o óbvio: boa intenção não basta, é preciso fazer cinema. E Sean Baker, se não é totalmente bem-sucedido, ao menos faz um longa interessante.

    Parece algo de John Waters, misturado com Hal Hartley e traduzido para os novos tempos.

    Sin-Dee (Kitana Kiki Rodriguez) e Alexandra (Mya Taylor) são duas amigas travestis que andam pelas ruas para ganhar a vida. Enquanto isso, Razmik (Karren Karagulian), taxista imigrante, dirige à procura de prazer com travestis.

    Alguns momentos são mal filmados (por ser num iPhone, até que não muitos), e o diretor insiste em fazer muitas mudanças de ângulo, coisa que funciona apenas com quem sabe o que faz.

    Mas há momentos fortes: o taxista que pensava ter chamado uma travesti e descobre que na verdade era uma mulher, Alexandra brigando na rua com um antigo cliente sob o testemunho de dois policiais atônitos, o taxista fazendo programa na máquina de lavar carros, entre outros.

    "Tangerine" tem humor, algo que falta a quase todos os filmes inclusivos. Mas talvez não seja tão inclusivo assim, pois, afinal, elas são obrigadas a se prostituir para pagar as contas.

    De qualquer forma, é um alento dentro de um universo tão maltratado social e cinematograficamente.

    TANGERINE
    DIREÇÃO Sean Baker
    ELENCO Kitana Kiki Rodriguez, Mya Taylor e Karren Karagulian
    PRODUÇÃO EUA, 2015, 16 anos
    QUANDO estreia nesta quinta (4)

    Edição impressa

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