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    Com línguas inventadas, espetáculo analisa história do amor romântico

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE EDITORA-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

    05/02/2016 02h15

    O amor é uma farsa. Ou ao menos é a ideia que se tem do sentimento hoje: algo inato a todos nós. "Pensamos no amor romântico como uma coisa instintiva do homem, mas é uma construção cultural", afirma Ivan Sugahara, diretor da companhia teatral Os Dezequilibrados.

    É o que discute "Beija-me como nos Livros", espetáculo que o grupo carioca estreia neste sábado (6), em São Paulo, após temporada no Rio.

    A peça fecha uma trilogia sobre o amor iniciada em 2014, quando o coletivo completou 18 anos. A primeira parte foi "Amores", de Domingos Oliveira. No mesmo ano veio "Fala Comigo como a Chuva e me Deixa Ouvir", de Tennessee Williams.

    Dalton Valério/Divulgação
    José Karini (esq.), Claudia Mele (no chão), Julio Adrião (deitado) e Ãngela Câmara (dir.) na peça 'Beija-me como nos Livros', da companhia Os Dezequilibrados CREDITO: Dalton Valério/Divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    José Karini, Claudia Mele, Julio Adrião e Ângela Câmara na peça 'Beija-me como nos Livros'

    Já "Beija-me..." parte de quatro tramas clássicas para analisar as mudanças dos relacionamentos ao longo da história e de onde se origina o conceito de amor romântico.

    "Esse modo de amar é uma construção, um conceito recente: a monogamia, o desejo de completude, a idealização. E toda a cultura de massa reforça essa concepção romântica", defende Sugahara. "Grande parte das nossas dificuldades no campo amoroso se deve a esse paradigma."

    Quatro atores –Ângela Câmara, Claudia Mele, José Karini e Julio Adrião– interpretam casais distintos, com suas separações e reconciliações.

    Um enredo de amor contemporâneo costura tramas inspiradas em mitos românticos, cada um representando momentos distintos da história: "Tristão e Isolda" (período medieval inglês), "Romeu e Julieta" (renascimento italiano), "Dom Juan" (iluminismo francês) e "Werther" (romantismo alemão).

    'GROMELÔ'

    A peça é toda encenada em uma língua "incompreensível". Para cada período retratado foi criado um "gromelô", uma linguagem teatral inventada e que é entendida pelo público por meio da impostação e dos gestos dos atores.

    Em geral uma maneira improvisada e composta de sons aleatórios, essa técnica tem aqui um trato diferente.

    Inicialmente, escreveu-se um texto em português, decorado e ensaiado pelos atores. Depois, cada mito ganhou língua (com palavras criadas para responder àquelas em português) e entonações distintas: o período medieval soa como inglês; o renascimento puxa para o italiano; o iluminismo é francês; e o romantismo de "Werther" parece alemão.

    "É uma pesquisa de expressão corporal e vocal e está diretamente ligada ao tema da peça", explica o diretor, que compõe um "gromelô" –geralmente usado para fins cômicos e circenses– com tons de drama.

    Ainda há na peça um flerte com a linguagem cinematográfica, uma constante no trabalho d'Os Dezequilibrados.

    Utiliza-se recursos semelhantes ao de acelerar as cenas para frente ou para trás, e a posição da cena no palco é alterada para oferecer ao espectador enquadramentos distintos. Uma reflexão sobre o amor (ou o teatro) nos tempos das múltiplas linguagens.

    BEIJA-ME COMO NOS LIVROS
    QUANDO sex., às 21h, sáb., às 19h e às 21h, dom., às 19h; de 6 a 28/2
    ONDE Teatro Cacilda Becker, r. Tito, 295, tel. (11) 3864-4513
    QUANTO R$ 10
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

    Edição impressa

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