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    OPINIÃO

    É preciso conhecer a ideia de Hitler na fonte para combatê-la

    LUIZ FERNANDO EMEDIATO
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    06/02/2016 02h05

    Tão monstruoso foi Adolf Hitler, responsável pela maior guerra e por um dos maiores genocídios da história, que se criou um mito em torno dele e de seu único livro, agora em domínio público. Pode ser lido por qualquer um, na internet –donde resulta inócuo e até ridículo proibir uma edição impressa.

    Na Alemanha, onde foi relançado, a ministra da Educação Johanna Wanka recomendou seu estudo nas escolas: "Trata-se de um importante instrumento de educação política". O retorno do livro foi apoiado também pelo vice-presidente do Conselho de Representantes dos Judeus Britânicos, Richard Verber. No Brasil, não foi rejeitado pelo cônsul honorário de Israel, Osias Wurman.

    Decidi publicá-lo por minha editora, a Geração Editorial, quando li um notável artigo do historiador Nelson Jahr Garcia, da USP, para quem "Minha Luta" foi "a melhor obra já escrita contra o nazismo".

    Nelson Jahar acreditava que, "como os vírus, as ideias absurdas tendem a retornar fortalecidas e resistentes". Sendo assim, diz, só conhecendo profundamente tais ideias podemos enfrentá-las.

    O extremismo de esquerda e de direita, o racismo, os preconceitos contra negros, mulheres, imigrantes e homossexuais estão ressurgindo no mundo e entre nós.

    Um deputado afirma que "o erro da ditadura foi torturar; devia ter matado". Outro, pastor, insulta homossexuais. Milhares de jovens iletrados vão às ruas pedindo a volta da ditadura. A intolerância prolifera nas redes sociais.

    Existe o temor de que se esses radicais tiverem acesso ao texto de Hitler poderão se inspirar nele para perturbar a democracia. Nada mais falso. Um editorial do "The New York Times" observou que "a inoculação da geração mais jovem contra o bacilo nazista será mais eficiente com a confrontação aberta às palavras de Hitler do que manter seu panfleto revoltado nas sombras da ilegalidade".

    "Minha Luta" é um livro com ideias abomináveis, mas proibi-lo é fugir de uma discussão em que elas podem ser refutadas com fatos, exemplos e argumentos que por sua vez ajudarão no combate a todo o tipo de racismo, intolerância e extremismo.

    A edição da Geração virá com 278 comentários de dez historiadores norte-americanos dos anos 1930, atualizados e enriquecidos por 48 de um historiador brasileiro e mais 28 do tradutor William Lagos. O texto de Hitler deve ocupar 550 páginas e os comentários mais 450.

    Recomendo –como fez a ministra da educação da Alemanha– que "Minha Luta" seja estudado nas escolas.

    A Bíblia e o Alcorão têm trechos inaceitáveis. Lidos ao pé da letra, mandam apedrejar adúlteras e decapitar infiéis. Devem ser proibidos?

    Hitler não escreveu nada de novo. Outros racistas e antissemitas haviam escrito coisas semelhantes. A tragédia foi ele ter encontrado eco na sociedade alemã, com o apoio da alta burguesia assustada com o comunismo.

    Encerro este artigo de novo com Nelson Jahr Garcia: "Quanto mais se conhecer ('Minha Luta'), maior se tornará o repúdio e a aversão".

    LUIZ FERNANDO EMEDIATO é escritor, editor e publisher da Geração Editorial, que pretende lançar "Minha Luta" em março

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