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    Supla chega aos 50 anos, vai ao divã e lança livro com 50 casos sobre sua vida

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE SÃO PAULO

    07/02/2016 02h15

    Ele joga sinuca com Amy Winehouse numa birosca em Londres, se enfastia porque Lula, Antonio Fagundes e Sócrates estão na sala dos pais gravando um programa do PT "old school", dá uma volta de carro com Silvio Santos, arranca um "beijo punk sabor tutti frutti" de Nina Hagen, recebe uma "chuva de cusparadas" ao abrir shows do Ramones, empresta suas botas de couro para Cazuza ("ficou super gigante no pé dele").

    Há meio século Supla vem levando uma vida de outro planeta neste nosso mundo –completa 50 anos em 2 de abril, dia seguinte ao da mentira. Mas é tudo verdade, e ele tem retratos de várias dessas cenas para provar: está tudo lá, em "Supla - Crônicas e Fotos do Charada Brasileiro".

    Na capa do livro, com 50 crônicas autobiográficas, ele aparece com o dedo em riste para o leitor. Na contracapa, é descrito como "figura midiática das mais fortes". O primogênito de Eduardo (PT) e Marta Suplicy (PMDB), dois figurões da política brasileira, não esconde seu fraco por flashes –vide as páginas 62 e 63, com 17 capas de revistas com ele, da "Caras" à "Chiques e Famosos".

    Marcus Leoni/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 27.01.16 15h O cantor Supla esta lancando novo livro. (Foto: Marcus Leoni / Folhapress, ILUSTRADA)
    O cantor Supla em seu apartamento, no centro de SP

    Em março, outra novidade: um álbum solo com músicas como "Parça da Erva", "Fanáticos Virtuais" e "Diga o que Você Pensa". O projeto com o irmão João Suplicy, Brothers of Brazil, entrou em hiato.

    A ideia do livro é contar sua vida "como se estivéssemos numa mesa de bar", ele diz à Folha num restaurante no térreo do edifício Copan, onde se encanta pela geladeira com estampa de onça (combina com a meia fosforescente rosa e o terço no pescoço do "santo" Little Richie).

    A história do punk que –e é o próprio quem diz– já foi um "coxinha príncipe" começa com o capítulo "Eu Nasci numa Família Quatrocentona". Do pai, herdou o sobrenome Matarazzo. Por parte da mãe, o Smith de Vasconcellos.

    Aos 13, tinha "os melhores cavalos de polo do Brasil". Uma foto mostra um bisavô, o barão Jaime Smith de Vasconcellos, num daqueles jantares chiques em mesas compridas, em sua mansão de Copacabana. Há também Supla e o pai a cavalo –no fundo, o castelo da família em Itaipava (RJ), feito com pedras vindas da Itália.

    "Lembro quando pintou o cabelo de loiro. Almoçávamos, e o garfo parou no ar com seu pai perguntando: 'Isso sai?'. Respondi que sim", escreve a senadora Marta no prefácio. Nunca saiu.

    Secretário paulistano de Direitos Humanos, o pai recorda que, como ele, Supla fez boxe. Santista, o filho "esteve numa briga da torcida jovem com a do Corinthians e achou que deveria se preparar melhor para sua defesa".

    ROQUEIRO DE BERÇO

    Os Impossíveis, Metrópolis, Zig Zag (batizada com o nome da seda usada para enrolar baseados de maconha), Tokyo, Psycho 69, Supla Zoo, Brothers of Brazil –bandas que Supla formou em 30 anos de carreira. Um dos primeiros hits ganhou capítulo próprio: "Mão Direita", libelo à masturbação censurado.

    Supla: Crônicas e Fotos do Charada Brasileiro
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    Na crônica "Folha detonando o Tokyo", o artista resgata uma crítica, publicada em 1986 no jornal, que destruía um de seus grupos. Se o rock em geral vinha "de garagens de periferia ou modestos apartamentos de classe média", a Tokyo "é formada por roqueiros de berço e vida folgada", afirmava o texto.

    Fora da música, Supla foi par de Angélica em "Uma Escola Atrapalhada" (1990), também com os Trapalhões. "O pai dela estava muito preocupado com o fato de que ela teria de me beijar na boca", conta. "No final, só dei uma chupadinha nos dedos dela, sem maldade."

    A projeção nacional veio mesmo na TV. Na era paleozoica dos realities no Brasil, ele namorou a atriz Barbara Paz em "Casa dos Artistas" (2001), do SBT. Quatorze anos depois, se exibiu em "Papito in Love" (MTV), programa em que meninas disputam seu coração –a vencedora tinha a opção de ficar com ele ou com R$ 50 mil. Escolheu a grana.

    "De repente me caso na próxima temporada e tenho um papitinho", diz.

    O apelido Papito veio do síndico que o via subir no prédio com várias garotas, quando morou no East Village, em NY, de 1994 a 1999. Por lá, foi até demolidor de paredes. "Era um dos meus inúmeros bicos para me sustentar", conta no livro. "Só não chupei pau e não dei a bunda. Agora, de resto..."

    SUPLA - CRÔNICAS E FOTOS DO CHARADA BRASILEIRO
    AUTOR Supla
    EDITORA Ideal
    QUANTO R$ 59,90 (152 págs.)

    *

    Leia um trecho do livro

    "Logo no começo da apresentação [abertura do show do Ramones, com sua banda, em 1996] já vieram cusparadas de todos os lados. Eu simplesmente não entendia o motivo de tanta raiva. Pensei...

    1) Será por que eu sou filho de políticos?

    2) Por que venho de uma classe privilegiada e não tenho direito de estar ali?

    3) Por que fiz um filme com a Angélica?

    4) Por que o som era uma bosta?

    5) O que fiz de errado?"

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