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    Em 'Diário de um Policial', ex-Gate narra bastidores de crimes famosos

    ANGELA BOLDRINI
    DE SÃO PAULO

    10/02/2016 02h34

    No dia 30 de agosto de 2001, o empresário e apresentador de TV Silvio Santos foi mantido refém em sua casa, no Morumbi. Durante sete horas, a polícia negociou a libertação do dono do SBT.

    Quinze anos depois, um dos negociadores da operação, o tenente-coronel da reserva Diógenes Lucca, lança o livro "Diário de um Policial", com bastidores de ocorrências em que atuou como membro da Rota (Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar) e do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), grupos de elite da polícia paulista.

    Além do sequestro de Silvio, outros casos conhecidos ganharam espaço na obra, como o sequestro do empresário Abilio Diniz, em 1989, e o massacre do Carandiru, em 1992.

    Karime Xavier-03.fev.2016/Folhapress
    SÃO PAULO / SÃO PAULO / BRASIL -03 /02/16 -16 :00h - Retrato de Diógenes Lucca, ex-comandante do Gate, que acaba de lançar um livro sobre seu tempo na Rota e no Gate ( Foto: Karime Xavier / Folhapress). ***EXCLUSIVO***ILUSTRADA
    Retrato de Diógenes Lucca, ex-comandante do Gate e autor do livro 'Diário de um Policial'

    Alguns, menos midiáticos, também são tratados, como o que resultou na morte da professora Adriana Caringi, em 1990, ou aquele em que assaltantes fizeram reféns dentro de uma igreja evangélica em São Bernardo do Campo (SP).

    "Escolhi casos em que pudesse colocar, nas entrelinhas, bandeiras minhas, o que acho que fará a polícia melhor" diz à Folha Lucca, que atualmente é comentarista de segurança na Globo.

    Dentre essas bandeiras, está a de que "bandido bom é bandido preso" (em contraponto a "bandido bom é bandido morto"). "Quando eu entrei no Gate, em 1988, ia para a ocorrência para pegar o vagabundo. Se desse para salvar o refém, ficava feliz", conta. "Era o que esperavam de nós."

    Ele diz crer que a diretriz da conduta policial tenha melhorado, mas afirma que mortes por policiais continuam sendo "o que mais arrebenta a imagem da corporação".

    Nos primeiros nove meses de 2015, a polícia paulistana matou 494 pessoas, segundo relatório da ONG Human Rights Watch."Não é uma mentalidade que se muda assim, da noite para o dia."

    DIVERGÊNCIA

    Em alguns pontos, o relato do tenente-coronel difere da versão oficial. No sequestro de Silvio Santos, por exemplo, Lucca afirma que o apresentador havia lhe pedido a presença do então secretário de Segurança Pública, Marco Vinícius Petrelluzzi.

    Ele teria negado o pedido, mas sido informado pelo comando, meia hora depois, que o governador Geraldo Alckmin estava a caminho.

    Diário De Um Policial
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    O governador, no entanto, se lembra de forma diferente do dia do sequestro. "O secretário me ligou e disse: 'Olha, o Silvio Santos ligou pra mim, e falou que, se você for lá, o rapaz se entrega'", diz à Folha.

    Alckmin afirma que teria esperado ainda cerca de duas horas antes de voar até a casa de Silvio. Estava receoso, diz, de abrir um precedente para exigências similares em outras ocorrências. Ao ver que o sequestro não estava perto do fim, ele teria decidido ir à casa do apresentador.

    Outra divergência aparece na descrição da megarrebelião que eclodiu em 29 presídios do Estado de São Paulo, promovida pelo PCC no começo da década passada. Lucca afirma que o caso teria ocorrido em 25 de novembro de 2000.

    Já os jornais da época noticiaram o fato em 19 de fevereiro de 2001, versão corroborada por Alckmin, à época governador interino do Estado.

    DIÁRIO DE UM POLICIAL
    AUTOR Diógenes Lucca
    EDITORA Planeta
    QUANTO R$ 36,90 (207 págs.)

    Edição impressa

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