• Ilustrada

    Wednesday, 01-May-2024 14:31:12 -03

    Oscar 2016

    crítica

    Indicado ao Oscar, 'Brooklin' é filme fácil de assistir e de esquecer

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    11/02/2016 02h36

    Uma cena apenas basta para definir "Brooklin": após longa e incômoda viagem, a jovem irlandesa Eilis chega aos EUA. Quando um policial lhe concede o direito de entrar no país, ela se dirige à porta de entrada. Abre-a e, então, uma grande luz vindo do fundo cobre sua figura. Não é a entrada de um país, mas do paraíso.

    O tom está dado. Não sejamos ingênuos, porém. O filme, ao menos, não o é: a imigração não é um paraíso. Estamos em meados do século passado, e Eilis enfrentará mais ou menos todos os problemas de adaptação pelos quais passa quem troca de país.

    Existe uma particularidade adicional: os costumes e tradições irlandeses estão arraigados, o que torna a experiência ainda mais amarga, especialmente porque Eilis é uma garota meio sem graça. É assim que ela vive seus primeiros tempos em Nova York.

    Como sempre nesses casos, o que pode arranjar as coisas é um namorado, e Eilis conhece um rapaz de origem italiana que parece estimá-la de verdade. Sua aparência subitamente se ilumina, e o estudo lhe permite sonhar com um futuro mais promissor. Ela parece esquecer a Irlanda.

    Kerry Brown-14.jan.2016/Fox Searchlight/AP
    This photo provided by Fox Searchlight shows Saoirse Ronan, left, and Emory Cohen in a scene from the film, "Brooklyn." The 88th annual Academy Awards nominations will be announced on Thursday, Jan. 14, 2016, at the Academy of Motion Picture Arts and Sciences in Beverly Hills, Calif. The Oscars will be presented on Feb. 28, 2016, in Los Angeles. (Kerry Brown/Fox Searchlight via AP) ORG XMIT: CAET841
    Saoirse Ronan e Emory Cohen em cena de "Brooklin"

    Mas, não por acaso, logo no começo de "Brooklin", é evocado "Depois do Vendaval" (1952), em que, pelas mãos de John Ford, esse perpétuo vaivém entre Irlanda e EUA ganhou, há mais de 60 anos, sua obra-prima.

    No caso, tudo ia muito bem, quando sua irmã morre –aquela que arranjou tudo para que a garota inteligente e sem emprego decente pudesse ter uma chance nos EUA. O incidente força o retorno à Irlanda no momento em que ela está bem, cheia de boas perspectivas.

    Assim, não se trata apenas de fazer companhia à mãe –ali ela também consegue um bom emprego e, mais importante, um pretendente quase tão simpático e mais rico que o jovem italiano. Aquele país que parecia o paraíso de repente é confrontado à força da tradição irlandesa, de seus costumes, de sua –é o que se sugere– imobilidade.

    Eis o dilema de Eilis: ficar ou voltar. Bem raso, pode-se perceber, mas à altura do que, com alguma exceção, nos propõe esta edição do Oscar de suposto melhor filme.

    É possível pensar que "Brooklin" faça parte da lista como representante da inevitável cota britânica de todos os anos. Pode ser. O certo é que a principal, a mais inquietante questão que este filme propõe: por que diabos a distribuidora houve por bem traduzir o título original, "Brooklyn", por "Brooklin", promovendo a inócua substituição de um y por um i?

    Tudo o mais está dentro do previsível. Mesmo que a comparação a fazer fosse com o razoavelmente frustrado "Era uma Vez em Nova York" (2013), "Brooklin" teria a oferecer apenas algum conforto ao espectador que veja no cinema uma distração.

    Este é um filme para ver facilmente e esquecer com facilidade ainda maior.

    BROOKLIN
    DIREÇÃO: John Crowley
    ELENCO: Saoirse Ronan, Emory Cohen e Domhnall Gleeson
    PRODUÇÃO: Irlanda/Reino Unido/Canadá, 2015, 12 anos
    QUANDO: estreia nesta quinta (11)

    Edição impressa
    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024