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    Embriagadas, atrizes desconstroem 'O Defunto', peça de surrealista francês

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    EDITORA-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

    12/02/2016 02h17

    "A vida atropelou 'O Defunto'", comenta a atriz Tetembua Dandara. Foram mais de dez anos desde o início do projeto, e nesta semana a CiadasAtrizes estreia em São Paulo sua adaptação da obra de René de Obaldia.

    O texto do surrealista francês, escrito no início dos anos 1960, despertou o interesse do coletivo feminino em 2003, quando as atrizes ainda eram estudantes da Unicamp.

    De lá pra cá, foram muitos ajustes, chegando-se à quarta e atual versão da peça, que inclui uma garrafa de vinho divida por Tetembua e sua companheira de cena, Talitha Pereira, para "desestabilizar" a atuação da dupla.

    A trama de Obaldia, na qual duas mulheres conversam sobre Victor, finado marido de uma delas, foi toda recortada e desconstruída na adaptação. O defunto, por sinal, perde peso na montagem –que ganha ares mais feministas.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Talitha Pereira (acima) e Tetembua Dandara em ensaio de 'O Defunto
    Talitha Pereira (acima) e Tetembua Dandara em ensaio de 'O Defunto'

    São mantidas as situações surreais do francês: vê-se uma colagem de cenas, como uma partida de xadrez em que as jogadas são o choro das intérpretes. Ou frases soltas, tais quais: "Sei lá dos porquês do mundo, só sei da culpa dos carboidratos".

    À obra de Obaldia são acrescidos outros textos: de Strindberg, Roland Barthes e Carlos Canhameiro, do grupo Les Commediens Tropicales.

    Tudo é acompanhado por uma trilha sonora composta por Arrigo Barnabé e interpretada em cena por Daniel Muller e Rui Barossi. Ao convidar Arrigo para o projeto, há cerca de quatro anos, a companhia determinou apenas quais seriam os instrumentos: acordeom e baixo.

    "O acordeom tem recursos bacanas, mas geralmente não é um instrumento principal", diz o compositor. "Achei legal usá-lo porque dá para criar coisas muito estranhas. E foi isso o que eu quis fazer."

    PROVOCAÇÕES

    Também foram vários os diretores da peça (12 ao todo), ou "provocadores cênicos", como a companhia prefere chamá-los, já que entram como convidados. Para a versão atual, "provocam" a cena Canhameiro e Marina Tranjan.

    Tudo, aliás, são provocações. Logo no início da peça, as atrizes bebem a tal garrafa de vinho em pouco mais de cinco minutos. Os músicos ingerem uma segunda garrafa.

    "Queríamos que as coisas acontecessem de verdade", diz Talitha. "O vinho entrou nessa ideia de desconstruir o texto", continua Tetembua.

    A proposta da embriaguez é tornar a interpretação mais maleável, menos técnica e ensaiada. Assim, abre-se margem para um eventual esquecimento do texto –e, assim, as atrizes têm de improvisar.

    Ainda ficam à mercê outros imprevistos: os vídeos exibidos no fundo do palco, e com o qual elas por vezes interagem, são trocados, sem que as atrizes saibam previamente; os músicos modificam a ordem do que é tocado; e, a cada sessão, um ator convidado se veste de coelho e interfere como bem quiser na cena.

    O caráter de performance permeia a trajetória da CiadasAtrizes. Caso de "Epifanias Urbanas" (2012), série de ações pelo centro de São Paulo, como brincar com guarda-chuvas sobre a ventilação do metrô ou jogar queimada em pleno vale do Anhangabaú, vestidas de secretárias.

    O DEFUNTO
    QUANDO qui. a sáb., às 20h30; até 27/2
    ONDE Oficina Cultural Oswald Andrade, r. Três Rios, 363, tel. (11) 3222-2662
    QUANTO grátis
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