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    Antes de sair do Brasil, Tim Burton se diz 'honrado' ao conhecer Zé do Caixão

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE SÃO PAULO

    16/02/2016 02h37

    Tim Burton cresceu com Hollywood lhe dando as costas. Era o filho de um funcionário público e de uma dona de loja de presentes com tema de gatos em Burbank, subúrbio vizinho a Los Angeles.

    Fazia filmes sobre lobisomens e cientistas loucos em super-8, no quintal de casa -com vista para o verso do letreiro "Hollywood". Aos 13 anos, dirigiu uma adaptação de "A Ilha do Dr. Moreau", de H. G. Wells: "A Ilha do Doctor Agor".

    A meca do cinema, para José Mojica Marins, foi a cabine de projeção do Cine Santo Estevão, administrado por seu pai na zona oeste de SP.

    Exibiu obras caseiras em lençóis, que estendia num varal no porão do cinema. Coisas como "O Juízo Final", que dirigiu aos 13 anos. No filme, naves em formato de caixão atacam a Terra.

    Em que momento os sinistros caminhos de Burton, 57, diretor de "Os Fantasmas Se Divertem" (do vilão Beetlejuice) e "Edward Mãos de Tesoura", e Mojica, 79, pioneiro do terror nacional, se cruzam?

    Na cabeça de Tim, faz tempo. Na semana passada, ele contou, em entrevista coletiva, ter crescido vendo filmes diferentões, incluindo os do cineasta paulista.

    Pessoalmente o encontro aconteceu na segunda (15), quando o americano conheceu o brasileiro no MIS (Museu da Imagem e do Som) -que abriga a exposição "O Mundo de Tim Burton" e que, em 2015, montou uma mostra sobre Zé do Caixão, criação máxima de Mojica.

    "Seus filmes ficaram na minha mente, como se fossem pesadelos. Mas bons pesadelos", afirmou, após se dizer "honrado" em conhecer Mojica.

    O encontro reservado aconteceu minutos antes de Burton correr para o aeroporto, após uma semana agitada no Brasil.

    Por aqui conheceu Sabrina Sato no camarote de uma marca de cerveja, onde chegou para assistir ao Carnaval carioca com máscara de palhaço demoníaco. Deixou como rastro uma foto na praia em que posa com anônimos fazendo "joinha" (polegar para cima).

    COFFIN JOE

    Já que Zé não fala inglês, e Tim não entende lhufas de português, a conversa foi mediada por Ivan Finotti, editor da "Ilustrada" e autor, com André Barcinski, da biografia "Maldito: A Vida e o Cinema de José Mojica Marins, o Zé do Caixão" (Darkside Books, 666 págs., R$ 99,90).

    Burton não lembra como conheceu Zé, o coveiro de unhas compridas e pavio curto que, no exterior, foi batizado como Coffin Joe.

    "Coffin Joe!", exclama Tim ao ver o colega -que, para sua surpresa, está com as unhas aparadas (menos a dos polegares).

    Burton acena com entusiasmo quando ouve que Mojica é o "Bela Lugosi dos trópicos". Ele foi comparado ao célebre Drácula do cinema ao receber um prêmio no Festival de Sundance de 2001.

    Mojica -que nunca gostou muito de vampiros, por achá-los "coisa de gringo"- escuta de Burton: "Seus pesadelos viraram sonhos para mim".

    O californiano recebe uma cachaça Zé do Caixão de presente e fica sem graça de não ter nada para dar de volta. Diz que vai organizar um festival em casa para seu amigos em homenagem a Mojica, em Londres, onde mora.

    Mojica se preparou para a reunião. Conta que reviu o remake de Burton para "A Fantástica Fábrica de Chocolate" (2005) na sexta passada. Elogia a animação "O Estanho Mundo de Jack". Lembra que está prestes a fazer 80 anos, em março. "Mas me sinto com 20."

    "Thank you, thank you, thank you... Só ouvi ele falando 'thank you'. Teve 'thank you' pra caramba", afirma o cineasta nativo em português no final do encontro.

    E aproveita para rogar uma terrível praga para o ex-marido da atriz Helena Bonham Carter (de quem Mojica é fã): "Quando você estiver com a mulher que mais procura e estiver no auge do prazer, uma carga pesada cairá e você não conseguirá saciar seu desejo".

    Longe do cinema desde "Encarnação do Demônio" (2008), Mojica diz que quer revisitar a busca de Zé do Caixão pelo herdeiro no filme "Além do Sangue". "Vai ter a transa do Zé com uma cigana", diz.

    O MUNDO DE TIM BURTON
    QUANDO 10h às 20h (ter. a sex.), 9h às 21h (sáb.) e 11h às 19h (dom. e feriados); até 15/5
    ONDE MIS, av. Europa, 158, tel. (11) 2117-4777
    QUANTO R$ 6 a R$ 12; entrada gratuita na ter., com retirada de senhas na bilheteria; nos domingos, a venda é feita só diretamente nas bilheterias; a partir de 11/3, as sextas também terão venda no local; ingressos antecipados pelo site www.ingressorapido.com.br/timburton (no momento não há lotes disponíveis); estão esgotadas as entradas para os dias 17, 18, 19, 20, 25, 26 e 27 de fevereiro; 2, 3, 4, 5, 9, 10, 12, 16, 17, 19, 23, 26, 30 e 31 de março; 2, 6, 7 e 9 de abril
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