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    análise

    Person mereceria destaque mesmo se só tivesse feito sua obra-prima

    SÉRGIO ALPENDRE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    17/02/2016 02h25

    Tivesse realizado apenas "São Paulo, Sociedade Anônima" (1965), o diretor e roteirista paulistano Luiz Sergio Person (1936-1976) já mereceria um lugar de destaque no cinema brasileiro.

    Nessa obra-prima flagrantemente moderna, Carlos (Walmor Chagas) é um homem em crise numa cidade cada vez mais desumana.

    Seu casamento com Luciana (Eva Wilma) não está bem. Já no começo, eles brigam seriamente. Logo depois, há um breve diálogo em que ela implora sua volta ao apartamento, e ele responde na rua, num jogo poético em que ambos se ouvem, apesar da distância.

    No trabalho, Carlos percebe que o chefe (Otelo Zeloni) é um oportunista. Sente-se uma peça da terrível engrenagem que comanda a sociedade.

    Person fez cinco longas e três curtas, e cada filme tinha estilo diferente. Como "O Caso dos Irmãos Naves" (1967), roteirizado por ele e Jean-Claude Bernardet, sobre dois irmãos (Juca de Oliveira e Raul Cortez) injustamente perseguidos, torturados e assassinados pelo Estado Novo de Getúlio Vargas.

    Dez anos antes, filmou um para o comediante Ronald Golias. Rebatizado "Um Marido Barra Limpa", o longa teve cenas adicionais realizadas por Renato Grecchi e foi lançado somente em 1967, sem créditos para Person, que reconhecidamente é o seu diretor.

    Em 1968, sua carreira derrapa. O episódio de "Trilogia do Terror" não é grande coisa, apesar de estar longe do desprezível, e o longa "Panca de Valente" é uma tentativa malsucedida de misturar comédia com faroeste,
    retomando o espírito das produções da Atlântida.

    Quatro anos depois, realiza o controverso e injustiçado "Cassy Jones, o Magnífico Sedutor", em que Paulo José interpreta o personagem do título com enorme talento.

    O filme entrou no rol das pornochanchadas e foi vítima do mesmo preconceito que as rebaixou a notas de rodapé na história do cinema brasileiro. Pura injustiça.

    Person se firmava como diretor de teatro quando morreu num acidente automobilístico. Sua história é contada de maneira poética no belo longa "Person" (2006), dirigido por sua filha Marina.

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