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    crítica

    Diretor mostra que queria ser John Ford, mas é só John Wayne

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    18/02/2016 02h19

    Dois filmes se complementam e às vezes parecem não conversar em "13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi". O primeiro é uma típica produção parruda realizada por Michael Bay, com ação em doses cavalares, fascínio pela força bruta e idealização do macho branco americano como paradigma do herói.

    O segundo denuncia a incompetência dos Estados Unidos no papel de vigilante da democracia liberal e as burrices de sua inteligência.

    O roteiro se baseia num livro-reportagem do jornalista Mitchell Zuckoff que investigou e denunciou as falhas da defesa americana expostas num ataque a uma base secreta da CIA na Líbia, em 2012.

    As franjas de crítica reproduzidas no filme vêm, certamente, desse relato. Mas "13 Horas" chama a atenção também por projetar uma visão negativa do heroísmo –anomalia nesse tipo de blockbuster.

    O filme tenta se inscrever na mesma linhagem de "Guerra ao Terror" e "A Hora Mais Escura", ambos dirigidos por Kathryn Bigelow. Como naqueles, a ação combinada de inteligência e intervenção militar revela-se insuficiente ou frustrante e, ao final, o único sonho dos sobreviventes é voltar para casa.

    Mesmo que "13 Horas" faça apologia da força, o filme não comporta nenhum triunfo. Enquanto a catarse pela ação, fundamental nesse tipo de cinema, não deixa ninguém aliviado, o impacto final vem do desastre.

    SEM ESPESSURA

    Ao contrário do heroísmo alquebrado dos filmes de Bigelow e do "Sniper Americano", de Clint Eastwood, os personagens de Michael Bay não têm espessura. Quando o filme tenta dar dimensão humana a eles, o resultado é piegas.

    É inegável, porém, a eficiência do diretor na ação. O modelo imersivo que cria, importado dos games e aprimorado ao longo da franquia "Transformers", coloca o público no centro da batalha e faz uma curiosa transposição dos antigos faroestes para as formas atuais ultratecnológicas de combate.

    Ao evocar uma situação clássica do cinema americano, Bay mostra que gostaria de ser um pouco John Ford. O modo como defende a superioridade, no entanto, faz dele apenas um herdeiro de John Wayne. (CÁSSIO STARLING CARLOS)

    13 HORAS: OS SOLDADOS SECRETOS DE BENGHAZI

    ("13 Hours: The Secret Soldiers of Benghazi")
    DIREÇÃO: Michael Bay
    ELENCO: John Krasinski, Pablo Schreiber, James Badge Dale
    PRODUÇÃO: EUA, 2016, 14 anos
    QUANDO: estreia nesta quinta (18)

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