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    CRÍTICA

    'A Paixão de JL' acopla narrativas das obras e palavras de Leonilson

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    26/02/2016 02h00

    Se Eduardo Coutinho é o grande renovador do documentário brasileiro desde os anos 1980, Carlos Nader é quem se situa, hoje, como seu discípulo mais criativo.

    Discípulo, frise-se, não imitador. O que os aproxima é a ideia de que todo homem é uma ficção –e de que talvez o documentário seja um bom modo de desvendá-la.

    O objeto de Nader muda: o "Homem Comum", longa de 2014, acompanhou a vida de um caminhoneiro por quase 20 anos. O filme não apenas mostra seu modo de vida como dá conta da forte identidade que se cria entre autor e personagem, o que produz um encontro entre duas pessoas que procuram, afinal, o sentido da vida.

    Divulgação
    O artista plástico José Leonílson. [FSP-Ilustrada-Acontece-20.08.95]*** NÃO UTILIZAR SEM ANTES CHECAR CRÉDITO E LEGENDA***
    O artista plástico cearense radicado em São Paulo José Leonílson

    Em "A Paixão de JL" o procedimento é outro. Não se trata de seguir um anônimo, mas um artista. No caso, Leonilson. Trata-se de visitá-lo "post mortem", a partir do diário iniciado antes mesmo do diagnóstico do HIV, e não de acompanhar sua trajetória, mas de reconstituí-la.

    Por fim, a ficção já está estabelecida, acredita o cineasta: amigo de Leonilson, já disse que o artista era uma pessoa bem diferente daquela cujas impressões figuram no filme.

    É quando o espectador começa a se indagar: qual a máscara e qual a verdadeira face de Leonilson? E por que uma de suas atitudes seria mais verdadeira do que a outra?

    O ponto central é que "A Paixão de JL" acopla duas narrativas: a das palavras e a de suas obras. Daí surgem questões para o espectador.

    Uma delas: o que há de ficção em um diário? Aquilo que se escreve destina-se a si mesmo ("querido diário") ou a ser encontrado por alguém? O autor de um diário não constrói uma imagem pública?

    Essa confrontação entre som e imagem é que, plano a plano, termina por nos jogar naquilo que talvez seja o real objeto do filme: o mistério de um homem, daquilo que nele vive (a obra) e do que morre (o corpo). É novamente o sentido do existir que parece nortear a busca de Nader.

    A PAIXÃO de JL
    QUANDO: EM CARTAZ
    PRODUÇÃO: BRASIL, 2015, 14 ANOS
    DIREÇÃO: CARLOS NADER

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