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    Atriz do Grupo Galpão encarna loucura em peça inspirada em Drummond

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    EDITORA-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

    26/02/2016 02h24

    Se "toda cidade tem seu doido", como define Teuda Bara, todos os loucos estão no palco, na pele da protagonista de "Doida", peça que a atriz, uma das fundadoras do mineiro Grupo Galpão, estreia nesta sexta-feira (26) em São Paulo.

    É um projeto que soma mais de dez anos, desde que seu filho mais novo, Admar Fernandes, apresentou-lhe o conto homônimo de Carlos Drummond de Andrade.

    À época, Teuda fazia outra "loucura": aos 65, com mais de cem quilos e sem falar inglês, foi convidada pelo canadense Robert Lepage a integrar o elenco de "KÀ", do Cirque du Soleil. Teve de driblar língua e números circenses. Ainda assim, o texto do mineiro não lhe saiu da cabeça.

    Daniel Bianchini/Divulgação
    A atriz Teuda Bara em cena da peça "Doida", inspirada em conto de Drummond FOTO Daniel Bianchini/Divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    A atriz Teuda Bara em cena da peça "Doida", inspirada em conto de Drummond

    Mas faltava algo. O conto, sobre uma doida de uma cidadezinha, é narrado pelo ponto de vista de um garoto que, com os amigos, temerosos e fascinados por essa mulher, divertem-se em atirar pedras na casa da tal biruta.

    Para a montagem, era preciso uma voz própria para a doida, e foram acrescidos à dramaturgia obras de outros autores –como Hilda Hilst–, referências a personagens que flertam com a loucura, caso de Bispo do Rosário, Stela do Patrocínio e outros textos do próprio Drummond.

    Também costuram a trama histórias de família que Teuda, 75, ouviu ao longo da vida. "É uma colchinha de retalhos", conta a atriz.

    Assim, o enredo é apresentado pelo tal garoto-narrador, espécie de alter ego de Drummond, aqui interpretado por Admar, em sua primeira parceria com a mãe. Mas é sozinha na noite que a doida sai para o quintal e divaga sobre suas memórias e devaneios.

    "Fomos vasculhando a obra de Drummond e achamos trechos preciosos que coincidiam com o que a noite estava trazendo para ela", conta a diretora Inês Peixoto, também integrante do Galpão.

    Inclusive seus escritos eróticos, publicados em "O Amor Natural", que despertam as lembranças de desejo e as paixões da doida, sua "noite libidinosa", como define Inês.

    Músico, Admar ainda interpreta a trilha sonora da peça. Intercala com instrumentos de percussão os sons desse refúgio interiorano: ladros de cão, voos de pássaros.

    Habituada a montagens mais grandiosas e de elencos numerosos, Teuda faz em "Doida" um exercício intimista, já que atua como em um monólogo, sem interagir em cena com o filho. "Por estar sozinha no palco, fiquei até com um medinho", diz ela.

    A dramaturgia de "Doida" é do jornalista João Santos, ex-estagiário da área de comunicação do grupo mineiro.

    É dele a biografia "Teuda Bara - Comunista demais para Ser Chacrete", que será lançada durante a temporada do espetáculo no Sesc Santana.

    Projeto de João para a conclusão do curso de jornalismo, a obra repassa a vida da atriz, figura folclórica da cena teatral de Belo Horizonte e que, aos 40 e já com dois filhos, ajudou a fundar o Galpão com uma turma de "20 e poucos anos".

    DOIDA
    QUANDO sex. e sáb., às 21h, dom., às 18h; até 20/3
    ONDE Sesc Santana, av. Luiz Dumont Villares, 579, tel. (11) 2971 8700
    QUANTO R$ 9 e R$ 30
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos

    COMUNISTA DEMAIS PARA SER CHACRETE
    AUTOR João Santos
    EDITORA Javali
    QUANTO R$ 35 (240 págs.)
    LANÇAMENTO 5/3, das 16h às 17h30, no Sesc Santana

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