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    Levantamento mostra que Oscar não marginaliza apenas os negros

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    ANGELA BOLDRINI
    DE SÃO PAULO

    28/02/2016 02h02

    Os vencedores só serão conhecidos na noite deste domingo (28), mas já dá para apontar um motivo pelo qual o Oscar 2016 não será esquecido -e é porque "deu branco". Entre os 20 concorrentes a melhor ator e atriz (principal e coadjuvante) não há nenhum negro, latino ou asiático, parcelas expressivas da população dos EUA.

    E o favoritismo de Alejandro G. Iñárritu ("O Regresso") para diretor?, você poderia argumentar -seria, afinal, o terceiro Oscar seguido dado a um mexicano na categoria. Tem isso. Em compensação, mulher nesse páreo? Nenhuma.

    A ausência de negros (dos oito filmes indicados, nenhum foi dirigido por um) monopolizou o debate sobre a dificuldade da Academia em contemplar minorias. Se o holofote pairou na campanha #OscarsSoWhite, mais desfalques históricos não passaram batido.

    OSCAR TÃO BRANCO - Vencedores desde o início das premiações

    *Algumas categorias tiveram mais de um vencedor numa mesma edição
    **Categorias foram criadas em 1937

    A Folha fez um levantamento de outros grupos marginalizados na cerimônia (veja acima). Hispânicos/latinos, por exemplo, são dois em dez residentes americanos. O possível tricampeonato dos diretores mexicanos, caso Iñárritu vença de novo após a conquista de "Birdman" em 2015, soa como ponto fora da curva.

    Entre atores protagonistas, só o porto-riquenho José Ferrer ganhou ("Cyrano de Bergerac", em 1950). Fernanda Montenegro foi a primeira latina nomeada para melhor atriz ("Central do Brasil"), em 1998. Perdeu para Gwyneth Paltrow ("Shakespeare Apaixonado").

    "Para certo cinema hollywoodiano, não americanos são figurantes numa narrativa global. É realmente um clichê no cinema, o herói branco, o macho alfa contra povos 'exóticos', todos inimigos potenciais", diz Ivana Bentes, pesquisadora de cinema e secretária de Diversidade Cultural do Ministério da Cultura. "Não é que minorias estejam sub-representadas, mas ocupam lugar inglório, o lugar do mal."

    AGORA É QUE SÃO ELAS?

    Mulheres estão em baixa na Academia, que demorou 49 edições para indicar uma diretora: Lina Wertmüller, em 1977, por "Pasqualino Sete Belezas". Décadas depois, laureou a primeira e única mulher na categoria: Kathryn Bigelow, com "Guerra ao Terror", que bateu o "Avatar" do ex-marido James Cameron.

    Já sir Ian McKellen, 76, lembrou da escassez de vencedores homossexuais. "Nenhum ator [principal] abertamente gay ganhou o Oscar. Imagino se por preconceito ou acaso", disse ao canal Sky News. Foi além: apontou como héteros levaram estatueta por papéis gays, como Tom Hanks ("Filadélfia") e Sean Penn ("Milk").

    "Que esperto, que esperto. Que tal me dar um Oscar por interpretar um homem hétero?", afirmou McKellen, nomeado duas vezes ("Deuses e Monstros" e "O Senhor dos Anéis"). Tinha, nessas ocasiões, um discurso pró-LGBT no bolso do paletó, caso fosse o escolhido. Não foi o caso.

    O primeiro gay assumido a ser laureado foi sir John Gielgud (1904-2000), coadjuvante, em 1981, por "Arthur". Outra exceção: Angelina Jolie, abertamente bissexual, foi a melhor coadjuvante em 2000, por "Garota, Interrompida".

    Há quem seja condecorado antes de se assumir. Caso de Jodie Foster ("Acusados", 1988, e "O Silêncio dos Inocentes", 1991). Em 2013, ao receber um Globo de Ouro pelo conjunto da obra, ela abriu o jogo sobre sua vida pessoal. Primeiro disse que faria uma grande revelação. "Eu sou...", pausa dramática, "... solteira."

    E emendou: "Espero que ninguém se desaponte por não haver um grande discurso de saída do armário, porque já saí do armário faz uns mil anos, na Idade da Pedra".

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