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    Oscar 2016

    análise

    Premiação foi só a moldura: negros fizeram show do Oscar

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    29/02/2016 02h24

    Ninguém se engane: a questão principal não é se Leonardo DiCaprio enfim ganharia seu Oscar, ou se Iñárritu venceria como melhor diretor pelo segundo ano seguido.

    A questão principal é mesmo étnica. O protesto dos negros, o pedido por boicote, estava destinado a marcar a cerimônia. O que a TV mostrava na hora do tapete vermelho já dizia respeito a isso.

    Por toda parte, apresentadores negros, ou a atriz negra que vai apresentar tal prêmio, negros e mais negros. Estrelas negras de verdade, neca. De todo modo, a festa é feita para encobrir contradições.

    Começa o começo do show. E Chris Rock não fala de outra coisa: abre com um verdadeiro manifesto de defesa da Academia. Às vezes está correto: nem tudo é racismo, nem tudo é sexismo, nem tudo é política. Mas por que gastar tanto tempo no tópico, então?

    E começa o show: "Spotlight" ganha como roteiro original. É um filme de assunto, de assunto sórdido, aliás (a pedofilia no catolicismo em Boston): pouco brilho.

    O roteiro adaptado vai para "A Grande Aposta". Sem surpresas. Assunto vasto, difícil de dominar e bem resolvido: a crise de 2008.

    Passamos em seguida à atriz coadjuvante: a sueca Alicia Vikander ganha e será talvez a novidade do ano. Enquanto "Mad Max" rapa o setor de arte e montagem, Emmanuel Lubezki leva em fotografia pela terceira vez seguida (agora, por "O Regresso").

    A primeira parte do show se fecha com "O Filho de Saul" levando o Oscar de filme em língua estrangeira. Nenhuma surpresa: Holocausto não perde Oscar. Mas, desta vez, não é um filme qualquer.

    O show segue. De agora em diante são os peixes grandes, a começar pelo prêmio de melhor música para Ennio Morricone. Viva o italiano.

    A questão número dois: DiCaprio desencalharia ou não? Ele já deu provas aos montes de que não é mais apenas o galãzinho de outros tempos. Em "O Regresso", ele teve um papel a caráter para levar a sua estatueta: os sofrimentos físicos e espirituais intensos de seu personagem.

    Mais: num filme de Iñárritu, que atualmente é o grande xodó de Hollywood e levou mais uma estatueta. Um latino que sabe jogar poeira nos olhos da Academia.

    Mas, ninguém se engane: os negros foram o show. A premiação foi a moldura. Cada apresentador que entra, os negros em particular, tratam de desqualificar qualquer protesto. Apogeu: Spike Lee ganha o Oscar honorário. Está dado o recado: do limão, Academia quer fazer uma limonada.

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