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    Amadores no teatro conseguem levar o cotidiano para o palco, diz diretor

    GUSTAVO FIORATTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    06/03/2016 02h09

    Não estava nos planos do jornalista e escritor Alexandre Staut, 43, participar de uma peça quando chegou o convite da MITsp. "Era preciso falar francês, achei divertido e me inscrevi", conta, sobre sua participação em "Ça Ira", peça de Joël Pommerat que tem sua última sessão neste domingo (6), no Sesc Pinheiros.

    A montagem se dedica à ideia de imaginar como seria a Revolução Francesa se ela acontecesse hoje e, por onde passa, propõe sempre o mesmo rito: recrutar "amadores", que representarão "pessoas da sociedade", diz Pommerat.

    Para o autor e diretor, os intérpretes leigos à técnica teatral, neste trabalho, dão "alma ao princípio de criar uma ligação forte com o público".

    Elisabeth Carecchio/Divulgação
    Cena da peça 'Ça Ira', do francês Joël Pommerat
    Cena da peça 'Ça Ira', do francês Joël Pommerat

    O gerente de programação do Cinesesc Gilson Packer, que também aceitou participar da peça, conta que as quatro horas de espetáculo exigem dele uma dose até então desconhecida de atenção.

    Ele foi orientado a fazer o papel de um deputado numa sessão parlamentar, reagindo em coro ao discurso de políticos interpretados por atores, estes sim, profissionais.

    São 15 amadores contracenando com 14 experientes. "Sinto que está sendo exigido um pouco mais da minha capacidade de interpretação do que aquilo que me foi dito no início", diz Packer.

    Na entrevista à Folha, ele repetia variações de duas orações: "espero que depois do ensaio geral dê para sentir melhor o que vai ser" e "acho que vai dar tudo certo".

    Também na MITsp, "Cidade Vodu" mistura atores da companhia Teatro de Narradores a não atores: haitianos que imigraram para São Paulo e cujas trajetórias dão a base para a criação.

    Uma diferença entre os dois grupos, diz o diretor José Fernando Azevedo, é que "um aprendeu a técnica na escola, e o outro aprendeu driblando o policial na fronteira ou ficando em silêncio quando era humilhado".

    Mas em nenhum dos casos, diz, a representação é deixada de lado. "Essa distinção entre os grupos vai desaparecendo", observa. "O que estamos criando é um espaço comum, onde as pessoas são capazes de imaginar as coisas juntas."

    Divulgação
    Cena de 'Batucada', espetáculo do coreógrafo Marcelo Evelin
    Cena de 'Batucada', espetáculo do coreógrafo Marcelo Evelin

    O Festival de Curitiba também traz em sua grade um espetáculo que propõe experiência similar. "Batucada", que o diretor Marcelo Evelin prefere definir como "acontecimento" em vez de "espetáculo", também recruta pessoas que não se dedicam profissionalmente ao teatro.

    Evelin conta que a montagem foi encenada pela primeira vez em Bruxelas, em 2014. São 50 pessoas em cena, interpretando algo que ficaria, grosso modo, entre "um desfile carnavalesco e uma parada militar". Os não atores, para ele, são capazes de trazer "algo cotidiano para a cena".

    ÇA IRA
    QUANDO dom. (6), às 18h
    ONDE Sesc Pinheiros, r. Paes Leme, 195, tel. (11) 3095-9400
    QUANTO R$ 10 a R$ 20
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

    CIDADE VODU
    QUANDO seg. (7) a dom. (13), às 20h
    ONDE Vila Itororó, r. Pedroso, 238, tel. (11) 3255-2713
    QUANTO R$ 20 (dias 7 a 9: grátis)
    CLASSIFICAÇÃO 16 anos

    BATUCADA
    QUANDO 23 e 24/3, às 21h
    ONDE Espaço Cult, r. Dr. Claudino dos Santos, 72, Curitiba, tel. (41) 9233-2525
    QUANTO R$ 70
    CLASSIFICAÇÃO 16 anos

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