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    CRÍTICA

    Só tempo dirá se poesia visual de 'Velho Chico' surte audiência

    ROBERTO DE OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    15/03/2016 02h04

    Caiua Franco/Divulgação
    Rodrigo Santoro e o ator Julio Machado em cena de Velho Chico. FOto: Caiua Franco/Divulgacao/Globo ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Rodrigo Santoro e Julio Machado em cena de "Velho Chico"

    Quem conhece o Velho Chico? O rio, que nasce em meio a montanhas em Minas Gerais e escorre por quase 3.000 km até ir ao encontro do mar, é, mais que pano de fundo, um verdadeiro personagem da nova novela das nove, que estreou nesta segunda (14).

    Num cenário de encher os olhos, desenrola-se a trama de "Velho Chico", uma história de conflito entre duas famílias que vão brigar por água, terra e negócios. Da pena do escritor Benedito Ruy Barbosa, 84, virão à tona morte, vingança, culpa e, é claro, o despertar de um romance proibido.

    A julgar pelo primeiro capítulo, que exibiu um Rodrigo Santoro inspirado, um bon-vivant a caminho de suceder o pai como coronel, o espectador precisará de um pouco de tensão para se manter jogado no sofá. Nesta estreia, a novela foi de Jacinto (Tarcísio Meira, em passagem meteórica, mas memorável) e Encarnação (Selma Egrei, mais macho que muito homem, como Benedito gosta).

    A hora é propícia para pôr de lado a desmiolada facção de "A Regra do Jogo", poupar os ouvidos do funk depressão de Merlô (Juliano Cazarré) e abrir os olhos diante do belíssimo espetáculo visual que o diretor artístico, Luiz Fernando Carvalho, nos oferece.

    A trilha sonora é regada de brasilidade: já apareceram Gal ("Como 2 e 2") e Bethânia ("Meu Primeiro Amor"). Virão Alceu ("Flor de Tangerina"), Ednardo ("Enquanto Engoma a Calça") e Amelinha ("Gemedeira"). O tema de abertura é uma regravação de "Tropicália", em que Caetano é acompanhado pela Sinfônica de Heliópolis.

    Entregar ao veterano Benedito, que há 14 anos estava longe do horário nobre, a batuta da trama das nove é parte de uma estratégia da Globo, que pretende levar ao espectador um enredo menos vinculado ao momento de crise por que passa o país.

    "Velho Chico" promete investir na narrativa e nas imagens, que, trabalhadas por Carvalho, trazem ao primeiro plano um Brasil profundo que quase ninguém vê e que muitos talvez prefiram não ver. De qualquer modo, o diretor, que mantém com o sertão uma ligação visceral -sua mãe, Glicia, era sertaneja-, sabe como poucos fazer poesia com uma câmera na mão.

    Se essa saga familiar vai ou não vingar (ou dar preguiça), isso só o tempo dirá. Até lá, teremos a chance de mergulhar na eloquência do rio.

    Na luta pelo horário nobre, cada vez mais cambaleante, o surrado bordão da novela anterior ainda faz sentido: vitória na guerra —da audiência!

    VELHO CHICO
    QUANDO de segunda a sábado, às 21h, na Globo
    AVALIAÇÃO bom ★

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