Pouco mais de um mês após deixar a grife que fundou há 23 anos, Alexandre Herchcovitch, 44, costurará no chão, com uma máquina velha. A bonança de 20 costureiras, quatro modelistas e um ateliê de luxo no prédio da Inbrands, grupo de moda que detém sua marca, acabou. O estilista, um dos maiores do país, "está na fogueira", segundo seu novo diretor, Rafael Barioni.
A fogueira, no caso, é a da TV. Barioni dirigiu os oito episódios do reality "Corre & Costura" (Fox Life), que estreia na próxima segunda (28). No programa, o estilista corre contra o tempo e costura um look inédito em dois dias.
"Dois dias, não, 16 horas entre conhecer a pessoa e entregar a roupa. Saí da minha zona de conforto para conhecer situações bem diferentes das com que lido no dia a dia", diz o estilista à Folha.
As situações incluem criar looks para uma dupla de drag queens prestes a estrear um show e receber negativa de uma delas. "Faço do meu jeito, brigo pelo que acho melhor, mas quem escolhe usar ou não a roupa é a pessoa."
A reportagem assistiu a um dos episódios editados. Nas cenas, Herchcovitch tenta conquistar sua nova "cliente", Helena, que nunca ouviu falar dele e queria apenas uma roupa de festa que escondesse a pele que sobrou em seu corpo após emagrecer 100 kg.
"Não é um programa de moda, é um formato novo de reality que coloca a roupa no centro de um debate sobre a aceitação, rejeição da imagem e a autoestima", explica ele.
Entre os personagens está uma halterofilista com as costas "G" e, abaixo do quadril, "PP". "Lidamos com matemáticas complexas, biotipos incomuns à indústria da moda."
No último dia de gravações, o estilista e sua mãe, Regina, assistente do filho no programa, preparavam, num teatro da zona sul de São Paulo, o look do ator Marcos Domingo para a peça "As Sombras de Dom Casmurro". A intimidade entre mãe e filho é um dos pontos altos do reality.
"Ela faz a menor parte do trabalho, usa mais as mãos e, eu, a máquina de costura. Às vezes ela conversa bastante, fica nervosa e não consigo embarcar na onda dela. É tudo verdade, nada é ensaiado", diz o estilista, que no início da carreira tinha a mãe como braço direito de sua marca.
Orgulhoso do projeto, criado em parceria com o diretor Christiano Metri e conduzido pela Conspiração Filmes, ele acredita ter provado que "as roupas têm uma importância enorme na vida das pessoas".
Depois de uma saída sem explicação de sua marca homônima, é curioso constatar o quanto as roupas também são importantes para ele.