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    Didi e Dedé refilmam 'Os Saltimbancos Trapalhões', sucesso do grupo em 1981

    GABRIELA SÁ PESSOA
    ENVIADA ESPECIAL AO RIO

    20/03/2016 02h00

    "Quem é o Didi para ganhar um Oscar?". Renato Aragão, 81, fala sobre seu personagem no intervalo das gravações de "Os Saltimbancos Trapalhões - Rumo a Hollywood". Trata-se de uma recriação, prevista para 2017, do filme protagonizado em 1981 pela trupe de Didi, Dedé, Zacarias e Mussum.

    Renato acabara de despertar de um cochilo. Mas o sonho de que fala à reportagem não é real. Acontece dentro do filme: Didi está na cerimônia do Oscaras, piada com o prêmio da Academia. Anunciam um troféu a ele, por engano. E começa a confusão.

    Desde 1981, Renato ganhou troféus honorários no cinema nacional, um deles em Gramado. Reconhecimentos à trajetória do cearense que levou mais de 120 milhões aos cinemas —5,2 milhões só com "Saltimbancos", ainda a nona bilheteria nacional.

    Não há, na nova produção, quem não tenha sido influenciado pelo trapalhão. Do diretor, João Daniel Tikhomiroff ("Besouro"), ao roteirista, o cineasta Mauro Lima ("Tim Maia"), ao diretor musical, Claudio Botelho.

    MUSICAL

    Com os Trapalhões, Aragão fazia "tuuudo". "Desses 49 filmes, não sei [na verdade, são 43, descontando os feitos direto para a TV], 40 eu escrevi. Tudo foi o Didi."

    Hoje, conta que "terceirizou", mas palpita no novo "Saltimbancos", coprodução da Mixer com a Globo Filmes.

    Foi Botelho, com o sócio Charles Möeller, quem primeiro renovou a história, inspirada no musical de Chico Buarque, para o palco do Rio, em 2014. Foi a estreia de Aragão no teatro, ao lado de Dedé Santana e Roberto Guilherme, famoso pelo bigodudo sargento Pincel (os pelos sempre foram artificiais).

    O espetáculo estreia em São Paulo em junho deste ano, no teatro Cetip, com o mesmo elenco. Transformá-lo em filme foi uma conclusão ao longo da temporada: homenagear um clássico do humor brasileiro. E apresentá-lo aos mais jovens, atualizado: será como "Hairspray" e "Mamma Mia!", explica Botelho.

    "[No primeiro filme], o tratamento para as canções de Chico Buarque era de videoclipe, nunca de avançar a história [como feito agora]."

    Parte do elenco do longa tem experiência de palco: Letícia Colin, a mocinha Karina, que foi de Lucinha Lins, e Emílio Dantas, o mocinho Frank, vêm dos musicais. Os vilões são a dupla Satã (Marcos Frota) e Tigrana (Alinne Moraes), além do dono do circo, Barão (Roberto Guilherme). Lívian Aragão, filha de Renato, é a filha da vidente Zoroastra (Maria Clara Gueiro).

    Do primeiro "Saltimbancos", ficou pouco. O novo tem uma música perdida de Chico Buarque, a inédita "Amor Natural", que Botelho encontrou nos arquivos de uma peça.

    O enredo, no entanto, guarda semelhanças. Também se passa num circo à beira da falência. A crise vem depois de a Justiça proibir apresentações com animais, e o dono tentar lucrar alugando o picadeiro para comícios.

    Os trapalhões não concordam e tentam salvar o circo interpretando animais no show.

    Aragão tira uma cadeira de plástico de uma pilha para que Dedé Santana, 79, possa se acomodar. A dupla se protege do sol em um gazebo –o set foi instalado no circo de Marcos Frota, dentro de um parque carioca. Assistem ali à tomada que acabaram de rodar. Conta que não gosta de se ver, tem medo.

    FANTASMAS

    Os fantasmas de Aragão sempre foram suas expectativas. "Cada filme que fazia sucesso, eu me desesperava. Tinha que fazer diferente, melhor. Isso era o meu fantasma. E fazia um programa de TV, mais dois filmes por ano... Não sei como dava conta."

    Manteve o ritmo até meados dos anos 2000, quando esteve à frente de "A Turma do Didi", na Globo, e lançava regularmente longas para o cinema, além do show beneficente "Criança Esperança".

    Em 2014, Aragão teve princípio de infarto durante o aniversário da filha. No ano passado, foi hospitalizado devido a uma infecção urinária.

    A saúde, agora, vai bem. "Sempre me cuidei. Não como carne, fritura, doce. Faço exercício todo dia. Tenho que correr na frente da minha idade."

    Dedé observa que o parceiro anda reservado: "Antes ele fazia trapalhadas no set o tempo todo. Colava papel nas costas do diretor, amarrava coisas nos outros".

    Agora, só sai do camarim pouco antes do sinal de "ação!" do diretor. "Ele está um buda. Quieto, pensativo, curtindo a volta ao cinema", comenta Botelho.

    Basta a claquete estalar que Didi brilha. O semblante sereno de Aragão dá lugar a gestos meio bobalhões. Brinca com Dedé num jogo de cena que ultrapassa ensaios.

    A dupla seguiu trabalhando juntos desde o fim dos Trapalhões, após a morte de Zacarias (1934-1990) e Mussum (1941-1994). Dedé, oitava geração de uma família circense, tem uma conclusão sobre o quarteto: Mussum era o melhor comediante e Zacarias, o ator. "Dedé e Didi são os dois palhaços no meio."

    *

    AS TRAPALHADAS DOS SALTIMBANCOS Três versões da história

    1981

    Inspirado no musical adaptado por Chico Buarque do italiano, filme se torna sucesso nos cinemas e a música, nas rádios

    Música original
    "Piruetas", de Chico Buarque

    "Uma pirueta
    Duas piruetas
    Bravo, bravo
    Superpiruetas
    Ultrapiruetas
    Bravo, bravo
    Salta sobre
    A arquibancada
    E tomba de nariz
    Que a moçada
    Vai pedir bis
    Que a moçada
    Vai pedir bis
    Quatro cambalhotas
    Cinco cambalhotas
    Bravo, bravo"

    2014

    Renato Aragão e Dedé Santana estrelam uma adaptação para o teatro; o musical deve chegar a SP em junho de 2016

    2017

    A história ganha agora nova versão para o cinema, que vai incluir uma canção perdida de Chico Buarque

    Música perdida
    "Amor Natural"

    "Que sonho viver
    Um amor natural
    Quase igual
    A um amor de cinema
    Igual aos amantes
    Que sem treinar antes
    Já cantam juntinhos
    O tema que diz:
    Te dei minha boca
    Meus lábios são teus
    Meu Deus, contigo eu fui feliz
    Contigo eu fui feliz"

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