Com muita tristeza recebi a notícia da morte do amigo José Carlos Avellar, um dos expoentes da crítica cinematográfica desde os anos 1960, quando se destacou, desde seu trabalho no Jornal do Brasil, como um crítico de percepção fina e esclarecedora da forma e do estilo dos filmes, numa escrita sempre claríssima e com enorme respeito pelo leitor que complementava o seu respeito pelas obras com as quais sua cultura e sensibilidade dialogavam.

Conhecedor em profundidade da história do cinema e suas conexões com conjunturas específicas, sempre articulou sua apreciação das imagens e sons com referências à relação entre filme e contexto, qualidades do crítico que lhe permitiram desdobrar sua reflexão em ensaios mais amplos, tanto no objeto quanto nas dimensões da análise.

Falo de seus livros baseados em criteriosa pesquisa que iluminaram aspectos fundamentais do cinema brasileiro moderno e contemporâneo (como, por exemplo, em O cinema dilacerado), sua dedicação constante e fundamental ao documentário e sua atenção às relações entre fala e imagem, atenção que incluiu a relação entre cinema e literatura (ver O chão da palavra: cinema e literatura no Brasil).

Seus livros que nos legaram retratos abrangentes do cinema latino-americano (por exemplo, "A Ponte Clandestina"), terreno em que Avellar sempre foi um arguto interlocutor, não só dos estudiosos de cinema, num leque amplo de publicações internacionais, mas também dos cineastas, com quem interagiu como crítico e, não esqueçamos, no seu exercício do olhar como fotógrafo.

Vale lembrar a sua generosa dedicação de anos à Cinemateca do MAM-RJ e o seu trabalho recente no Instituto Moreira Salles, em que coordenou seminários e debates memoráveis, edições de DVDs e de livros.

	Mastrangelo Reino - 10.nov.09/Folhapress
	José Carlos Avellar durante a pré-estreia do filme "Hotel Atlântico", de Suzana Amaral