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Chilique de Claudio Botelho expõe direita que muitos fingem não ver
BERNARDO MELLO FRANCO
COLUNISTA DA FOLHA21/03/2016 02h00
O tumulto que esvaziou um teatro em Belo Horizonte é mais uma amostra de que a radicalização política está transformando o Brasil num país dividido –e à beira de um ataque de nervos.
Na semana mais quente da crise, o ator Claudio Botelho fez uma fala agressiva no palco, chamando a presidente Dilma Rousseff de ladra e o ex-presidente Lula de ladrão.
Parte da plateia vaiou e se levantou para abandonar a peça. O ator passou a provocar o público, que respondeu com gritos de "Não vai ter golpe!". As cortinas se fecharam. Não teve mais espetáculo.
Botelho não se acalmou. No camarim, discutiu com colegas e chamou os espectadores da peça de "bandidos", "neofascistas" e "filhos da puta". "São escrotos, são petistas, são o que há de pior no Brasil", esbravejou.
A atriz Soraya Ravenle protestou contra sua atitude no palco, mas ele continuou aos berros: "Ela [a presidente Dilma Rousseff é bandida!". "Ela é ladra!". "Eu sou o dono!". "A peça é minha!".
O episódio é curioso porque o espetáculo era inspirado em músicas de Chico Buarque. Há três meses, o artista foi alvo do mesmo discurso de ódio ao sair de um restaurante na zona sul do Rio.
Chico apoiou Lula e Dilma com base em suas ideias, das quais se pode discordar sem xingamentos. Ele também já fez campanha para adversários do PT, como Fernando Henrique Cardoso e Marcelo Freixo, o que não é lembrado por seus detratores.
O chilique de Botelho expõe uma face da nova direita verde-amarela que muita gente (e boa parte da mídia) prefere fingir que não vê.
Há um clima de raiva e intolerância no ar –que hoje se volta contra o PT, mas poderá atingir outras forças políticas. Basta ver o que ocorreu no dia 13, quando os tucanos Aécio Neves e Geraldo Alckmin foram hostilizados e enxotados da avenida Paulista.
Perseguido pela ditadura militar, Chico já viu este filme antes. Por isso, retirou a autorização para Botelho usar suas canções. Nos próximos musicais, é possível que o ator tenha que recorrer ao repertório de artistas que também aderiram à gritaria antiesquerdista, como Lobão. Será que o teatro lota?
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