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    Crítica

    Álbum duplo registra paixão dos Rolling Stones pelo blues

    THALES DE MENEZES
    DE SÃO PAULO

    21/03/2016 02h00

    Depois de 240 mil brasileiros terem visto os Rolling Stones no palco, quem não conseguiu ingresso pode aplacar a vontade com um disco surpreendente dos ingleses.

    A surpresa é constatar que, mesmo 50 anos depois, há material inédito do início da carreira do grupo. "Past Masters" é um CD duplo com gravações feitas em 1964 e 1965.
    Com seus integrantes recém-chegados à faixa dos 20 anos, os Stones já eram furiosos e carismáticos.

    Mick Jagger e Keith Richards formavam uma dupla imatura de compositores. Tudo mudaria em junho de 1965, quando lançaram "(I Can't Get No) Satisfaction", que soava como uma agressão aos sentidos e deu confiança para os dois deslancharem.

    Os Stones de "Past Masters" exibem o guitarrista Brian Jones (1942-1969) com alguma liderança dentro do quinteto. Ele era responsável por boa parte da originalidade da banda ao regravar músicos de seus ídolos do blues.

    O primeiro CD do álbum, com faixas de estúdio que mofaram nas últimas décadas, tem bons exemplos. Como Jones tocando slide guitar em "Meet Me In the Bottom", escrita por Willie Dixon e gravada originalmente por Howlin' Wolf, dois bluesmen favoritos dos jovens Stones.

    "Only Girl", de 1963, é uma das primeiras de Jagger e Richards. Raridade é a nunca gravada em LP "Goodbye Girl", escrita por Bill Wyman, baixista e membro fundador que deixou os Stones em 1993.

    As faixas autorais são boas, mas perdem feio para regravações de nomes de peso do blues e do soul, como "Go Home Girl", de Arthur Alexander, e "Key to the Highway", de Charlie Segar.

    No quesito raridade, a faixa imbatível é "Andrew's Blues". Nunca esteve nos planos da banda que essa música fosse parar num disco.

    Com uma letra carregada de safadeza, eles brincam com Andrew Loog Oldham, o o primeiro empresário da banda. Mais novo do que os integrantes dos Stones, ele foi fundamental para criar sua imagem inicial de bad boys.

    No CD número um aparecem também gravações ao vivo de canções importantes da banda: "I'm Alright", "Off the Hook" e "The Last Time".

    No segundo CD, só material ao vivo de 1964 e 1965. Ou seja, berros enlouquecidos das fãs encobrem versões raivosas de músicas que entraram definitivamente para o repertório dos Stones.

    Os fãs conhecem várias, como "Not Fade Away", "It's All Over Now", "Time Is on My Side" e "Carol", regravação matadora de Chuck Berry.

    O grande momento é a interpretação derramada de Jagger, debaixo do barulho da plateia, de "I Just Want to Make Love to You", de Muddy Waters, o bluesman que inspirou o nome da banda. É dele a frase "pedras que rolam não criam limo".

    Entre os garotos que queriam ser como seus ídolos negros e os setentões de hoje tocando para dezenas de milhares, uma longa estrada de rock liga essas duas ótimas versões dos Stones.

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