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    Erotismo, vida moderna e tinta preta compõem mostra de Edgar Degas

    THAIS BILENKY
    DE NOVA YORK

    28/03/2016 02h00

    MoMA
    Reprodução da obra "Scene de Ballet" (1879), de Edgar Degas, pastel sobre monotipia em papel
    Reprodução da obra "Scene de Ballet" (1879), de Edgar Degas, pastel sobre monotipia em papel

    O pintor francês Edgar Degas (1834-1917) ficou conhecido por suas delicadas cenas de bailarinas no salão. Uma nova exposição no MoMA (Museu de Arte Moderna), em Nova York, revela o suor, não das meninas, mas de seu criador para retratá-las com leveza e precisão.

    "A Strange New Beauty" (uma nova e estranha beleza), em cartaz até 24 de julho, mostra ainda facetas mais adultas de Degas, que carregou telas com erotismo e tinta preta em experimentos sobre o corpo humano e a vida moderna.

    Por trás desse conjunto eclético de criações está a exploração obsessiva de uma técnica em particular, a monotipia. O processo, usado por Degas em mais de 300 obras (120 delas expostas), consiste em comprimir a tela contra uma superfície de metal pintada previamente. A imagem pode ser reproduzida enquanto houver tinta.

    Durante dois surtos de interesse pela técnica, entre os anos 1870 e 1880 e, mais tarde, no início dos anos 1890, Degas explorou possibilidades.

    Por exemplo, usou o mesmo original para retratar uma cantora ao ar livre em "Chanteuse du Café-Concert" (1877-1878) e ela no palco em "Café-Concert" (1877-1879). Na primeira tela, em branco e preto, o fundo é desfocado e o ambiente, noturno, sugere boemia. Na segunda, as cores definem os limites dos objetos, dão vida a outras cantoras, e as cortinas e o palco conotam a elegância da cena.

    Os experimentos de repetição e transformação se mantiveram na obra de Degas. Ao longo de sua carreira, o artista trocou a exatidão dos traços treinados na juventude pela liberdade de misturar técnicas e literalmente imprimir suas digitais em pinturas "esculpidas" à mão, na descrição da curadora, Jodi Hauptman.

    LINHAS FROUXAS

    Em seus retratos de bailarinas, "a monotipia permitiu que Degas expressasse o movimento de maneira mais vívida, com linhas mais frouxas", afirmou Hauptman à Folha.

    Mas, em todas as telas em que fez uso da técnica, inclusive uma série de paisagens abstratas, "você percebe que Degas sujou as mãos de tinta. Ele deixa um rastro na obra, como se estivesse mesmo esculpindo formas, corpos, paisagens, bailarinas".

    Além de pincéis, esponjas e outros instrumentos tradicionais, o artista usava a palma das mãos, os dedos e as unhas para criar texturas e formas. Segundo Hauptman, Degas gostava de trabalhos em branco e preto e cedia a cores para atender ao apelo do público.

    Mas ele se manteve fiel à preferência pessoal em uma série de nus femininos. Mulheres retratadas na intimidade e em posições improváveis, sobretudo no banho, eram uma forma de explorar o contraste entre preto e branco, compondo corpos por subtração de tinta.

    Degas também abordou o corpo feminino em cenas de bordéis. Suas mulheres não eram nem imaculadas nem sedutoras, observa a curadoria, mas sim retratadas em poses deselegantes e momentos despreocupados. (A maioria dessas telas não foi vendida ou exibida enquanto o artista era vivo -mas, anos mais tarde, muitas seriam adquiridas pelo pintor Pablo Picasso.)

    MoMA
    Reprodução da obra "Chanteuse du Cafe-Concert" (1877-1878), de Edgar Degas, feita com a técnica da monotipia
    Reprodução de "Chanteuse du Cafe-Concert" (1877-1878), de Degas, feita com a técnica da monotipia
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