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    'As Meninas Superpoderosas' voltam à TV com animadora brasileira

    MARIA CLARA MOREIRA
    DE SÃO PAULO

    05/04/2016 12h18

    Açúcar, tempero e tudo o que há de bom. Esses foram os ingredientes escolhidos pela brasileira Letícia da Silva, 32, para trazer as Florzinha, Lindinha e Docinho de volta à TV. Sem esquecer, é claro, do Elemento X.

    A animadora é parte da equipe responsável pela nova encarnação do desenho "As Meninas Superpoderosas", que fez sua estreia mundial na segunda-feira (4).

    Criada por Craig McCracken (nome por trás de "O Laboratório de Dexter" e "A Mansão Foster Para Amigos Imaginários"), o seriado foi ao ar originalmente de 1998 a 2005 no Cartoon Network.

    O furor entre os mais novos fisgou também Letícia, entusiasta das principais atrações da emissora. "Eu sempre fui muito fã de desenho animado. Assistia a todos que passavam de manhã na TV, como 'O Laboratório de Dexter', 'A Vaca e o Frango', 'Doug'", conta. "Minha personagem predileta era a Lindinha. Apesar de ela ser toda meiguinha, o aspecto que eu mais gostava nela era a dramaticidade. "

    O gosto pelo desenho veio cedo, desenvolvido durante as aulas, em rabiscos rebeldes nos cadernos borrados de grafite, para exasperação dos mestres. "Meu principal prazer era inventar histórias. Deixava minhas professoras loucas."

    No colegial, cogitou deixar a vocação de lado para seguir uma carreira mais sisuda no ramo das ciências exatas. O programa de cinema em animação da Universidade Federal de Minas Gerais fez o lado artístico falar mais alto. Cursando Belas Artes, onde se formou há dez anos, ganhou uma bolsa para estudar nos Estados Unidos.

    Os seis meses vivendo o "sonho americano" marcaram, e Letícia escolheu o país para tocar a carreira de web designer. Em Austin, no Estado do Texas, atuou em uma agência cujos clientes iam de Beyoncé a Willie Nelson.

    "Depois de um ano e meio, percebi o que eu queria realmente, que era trabalhar na indústria de animação", explica. Durante mestrado em computação gráfica, tomou a decisão que a levaria a Townsville: ajudaria a criar as histórias para séries e filmes.

    Montou um portfólio de storyboards e foi de porta em porta. O primeiro emprego veio como revisionista de storyboard no estúdio de animação Little Airplane, em Nova York. Três anos depois, desembarcou na DreamWorks.

    Ela assinava a animação de "As Aventuras do Gato de Botas" quando surgiu a chance de interagir com as filhas do professor Utônio, dica de uma amiga que trabalhava para o Cartoon Network.

    "A série estava precisando de artistas de storyboard que não apenas soubessem desenhar, mas também escrever roteiros. Comecei como 'freelancer' para os diretores da série [Nick Jennings e Bob Boyle]. Depois de um mês, eles me chamaram para eu trabalhar efetivamente", afirma Letícia.

    À frente do departamento de história, Jennings e Boyle comandam a criação da narrativa, escolhendo a próxima aventura de Florzinha, Lindinha e Docinho. Letícia e o parceiro, o também animador Jaydeep Hasrajani, então, passam a visualizar o episódio quadro a quadro. A visão dos dois é colocada no papel e apresentada a toda a equipe do seriado.

    "É um trabalho que exige muita criatividade e agilidade. Temos muita liberdade para criar e improvisar com os personagens", diz Letícia. "É um dos trabalhos mais criativos que já tive oportunidade de realizar na minha vida, muito gratificante."

    O PESO DA IDADE

    Os fãs saudosos do desenho animado devem preparar o coração: as meninas cresceram e aposentaram o célebre telefone vermelho, antiga linha direta com o prefeito de Townsville. Agora, são adeptas do celular.

    "Cada uma tem o seu, com sua capinha característica. É um elemento pertinente ao cotidiano das crianças de hoje em dia, mais conectadas, antenadas e informadas", explica Daniela Vieira, diretora de conteúdo do Cartoon Network no Brasil.

    Outra perda é a senhorita Bellum, ajudante do prefeito e amiga das protagonistas. Segundo entrevista dos diretores do seriado ao jornal "Los Angeles Times", a personagem não condizia com a nova visão da série.

    Visão que trouxe Florzinha, Lindinha e Docinho com traço mais fino, cores mais vivas e mais bem-humoradas, característica dos desenhos da nova geração. Mudam-se também as vozes: as dubladoras da versão original deram lugar a interpretações "parecidas", mas mais modernas, segundo Daniela.

    Celebrado nas redes sociais por um suposto viés feminista à frente de seu tempo por ter como heroínas três meninas filhas de um pai solteiro e amoroso, que cuida do lar, o desenho não volta com o objetivo de agradar o clamor dos militantes.

    "Nossa preocupação é entreter as crianças, sem o objetivo de educar, deseducar ou passar qualquer lição de moral", argumenta a diretora de conteúdo. "A gente não tem essa agenda moral."

    NA TV
    As Meninas Superpoderosas
    QUANDO todos os dias, às 19h30, no Cartoon Network

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