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    Nação Zumbi resgata o passado no 20º aniversário do disco 'Afrociberdelia'

    THALES DE MENEZES
    ENVIADO ESPECIAL AO RECIFE

    06/04/2016 02h16

    Este ano marca duas décadas de "Afrociberdelia", um disco obrigatório em listas dos melhores já feitos na MPB. A banda Nação Zumbi fará várias apresentações para celebrar uma obra que pode ser vista de duas maneiras.

    Equivocadamente, pode ser lembrado só como último trabalho do pernambucano Chico Science, morto num acidente de carro em 1997 e que completaria 50 anos em 2016.

    Seria o adeus de um cantor e artista excepcional, que aglutinava companheiros no que acabou sendo chamado de mangue beat, uma cena de mistura de rock e ritmos brasileiros nos anos 1990.

    Mas foi, na verdade, a largada da Nação Zumbi para 20 anos de estrada, uma dezena de discos e sua afirmação como grupo mais difícil de rotular no pop nacional.

    Outras bandas misturam rock com baião, eletrônico com MPB, isso com aquilo. A Nação faz diferente. Já sai tudo junto e misturado. Com o perdão do clichê de crítico, sai de forma "orgânica".

    "Não é muito pensado, a gente faz a música que se formou durante anos na cabeça, já está processada", teoriza o guitarrista Lúcio Maia para a Folha, durante intervalo de ensaios no bucólico Fábrica Estúdios, no Recife.

    Maia estava com seus companheiros de banda na gravação de 'Afrociberdelia', o vocalista Jorge Du Peixe, o baixista Alexandre Dengue, o percussionista Toca Ogam e o baterista Pupillo –este o único que não participou, um ano antes, do primeiro álbum, "Da Lama ao Caos".

    No estúdio, o som de batuque tonitruante embasa o resgate do repertório do segundo disco. Para o grande público, a lembrança mais forte é a regravação de "Maracatu Atômico", de Jorge Mautner e Nelson Jacobina. Com clipe, rodou muito na então incipiente MTV Brasil e virou o hit do mangue beat.

    Maia diz que não se trata bem de turnê, mas de shows comemorativos. O grupo apresenta um deles nesta quinta (7), no Opinião, em Porto Alegre, e já marcou outro para 7 de maio "em casa", no Recife, no Clube Português. Uma data em São Paulo ainda será anunciada.

    O grupo tocará o álbum inteiro, faixa a faixa, na sequência do disco. "O pessoal cobra, e a gente tinha gostado muito de revisitar 'Da Lama ao Caos', por que então não fazer esse?", diz Jorge Du Peixe. "A ideia nesses shows é fazer no palco só o disco, temos 18 músicas daquelas gravações", completa Dengue.

    Depois de 20 anos, a banda vê o disco com o mesmo carinho ou faria muita coisa diferente hoje? Dengue diz que o carinho permanece, mas querer mudar é natural. "Algumas músicas ficaram no nosso repertório, e fomos mudando o jeito de tocá-las nesses anos todos."

    Para Maia, é necessário um exercício de "sair do disco". "Você criou aquilo, então você precisar se afastar e olhar de fora. Como pai, é difícil ver defeitos e qualidades num filho, mas a gente tem que fazer isso um dia."

    A versão em CD tem mais músicas do que as lançadas em LP. "Quando soltamos esse disco, o vinil estava em fim de feira, dessa finura", diz Dengue, juntando os dedos polegar e indicador.

    Maia lembra que essa fase de transição de vinil para CD deixou o disco tão longo.

    "Antes você concentrava tudo em 40 minutos no LP. Mas já gravamos pensando no CD, em que podia caber mais um monte de coisas", diz Du Peixe. "Resolvemos colocar todas as ideias da vida no disco", lembra Maia.

    "Entramos no estúdio com uns 60% do disco pronto e ficou muito grande. Teve gente que só ouviu uma parte, não foi até o fim. Deixou para descobrir o resto do disco depois", brinca Du Peixe.

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