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    crítica

    Europeu 'Mais Forte que Bombas' é mais um retrato de superação

    SÉRGIO ALPENDRE
    CRÍTICO DA FOLHA

    06/04/2016 16h32

    "Mais Forte que Bombas" é o primeiro filme rodado em inglês de Joachim Trier (nenhum parentesco com o Trier mais famoso e espalhafatoso). Dinamarquês radicado na Noruega, o cineasta do elogiado "Oslo, 31 de Agosto" atinge, pela primeira vez, um público internacional maior.

    Estamos mais uma vez no terreno da superação. No caso, do terrível acidente que levou para o além a premiada fotógrafa de guerra Isabelle Joubert Reed (Isabelle Huppert), deixando o marido Gene (Gabriel Byrne) e seus dois filhos, Jonah (Jesse Eisenberg) e o caçula Conrad (Devin Druid).

    A grande força do filme está na apresentação complexa e razoavelmente original dos personagens e das situações que eles enfrentam.

    Jonah, por exemplo, é apresentado numa maternidade, logo no início do filme. Ele acaba de se tornar pai. Por acaso, encontra lá uma ex-namorada. Esse fio da história será seguido? Parece que não.

    Logo somos transportados para outra cidade, onde estão Gene e Conrad, pai e filho adolescente que não se entendem. Jonah mais tarde irá se encontrar com eles. Por que? É algo que entenderemos melhor ao longo da trama.

    Forma-se um cadinho de dramas, estímulos e sofrimentos embaralhados, como em nossas vidas, e demoramos um pouco para perceber quem é quem e quais são as motivações em jogo.

    Essa apresentação complexa dura cerca de quarenta minutos, e aos poucos o filme vai ganhando aspectos mais convencionais, quando não acadêmicos.

    "Oslo, 31 de Agosto" é uma bela releitura do romance "Le Feu Follet", de Drieu La Rochelle, que já havia inspirado o melhor filme de Louis Malle, "Trinta Anos Esta Noite". Nele também temos uma estrutura narrativa que se revela aos poucos, igualmente tingida pela melancolia.

    Mas em "Mais Forte Que Bombas", diferentemente de "Oslo", as coisas tendem a se harmonizar demais. O longa deixa-se dominar pelo aspecto conciliador da maior parte dos dramas de superação.

    Isso não é necessariamente ruim. Muitos grandes dramas foram feitos sob o signo da conciliação. A questão é que as conciliações aqui parecem surgir apenas para que o drama não seja pesado demais para plateias mais amplas.

    Estamos próximos, por vezes, do drama de autoajuda. E Joachim Trier mostrou anteriormente que pode fazer melhor. Ainda que não seja possível dizer que é um passo em falso em sua carreira.

    *

    MAIS FORTE QUE BOMBAS
    (Louder Than Bombs)
    DIREÇÃO Joachim Trier
    ELENCO Jesse Eisenberg, Gabriel Byrne e Isabelle Huppert
    PRODUÇÃO Noruega/França/Dinamarca, 2015, 14 anos
    AVALIAÇÃO bom

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