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    Veteranos do documentário são destaque no festival É Tudo Verdade

    DE SÃO PAULO

    06/04/2016 17h00

    Um estava em um engenho de cana em Pernambuco, em 1964, com Eduardo Coutinho (1933-2014), rodando "Cabra Marcado para Morrer", quando veio o golpe militar e as filmagens foram interrompidas.

    Antes (1962) já havia codirigido "Os Romeiros da Guia", documentário sobre uma peregrinação anual de jangadeiros no litoral de seu Estado, a Paraíba. Vladimir Carvalho.

    Outro é há tempos o nome mais conhecido em direção de fotografia no Brasil. Mas começou no cinema em 1971, aos 24, como assistente de direção do irmão em "O País de São Saruê".

    Como documentarista sensível ao olhar, dirigiu em 2001 "Janela da Alma". Walter Carvalho.

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    O poeta Armando Freitas Filho, tema do documentário "Manter a linha da cordilheira Sem o desmaio da planície", de Walter Carvalho
    Armando Freitas Filho, tema do documentário "Manter a linha da cordilheira Sem o desmaio da planície"

    O terceiro (não há aqui nenhuma ordem hierárquica que não a cronológica de nascimento dos personagens) começou como assistente de direção em 1964, em "O Padre e a Moça", de Joaquim Pedro de Andrade –com quem trabalharia em outros filmes, como "Macunaíma" (1969).

    O primeiro documentário veio em 1966, com "Betânia Bem de Perto". Eduardo Escorel.

    O festival de documentários É Tudo Verdade, que começa nesta quinta (7), chega a 2016 aos seus 21 anos. Mas esses três decanos mostram que, há muito, o documentarismo no Brasil conquistou a maioridade.

    Os irmãos Carvalho e Escorel estão na competição brasileira de longas e médias-metragens da mostra.

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    Getúlio Vargas em cena do documentário "Imagens do Estado Novo - 1937-45", de Eduardo Escorel
    Getúlio Vargas em cena do documentário "Imagens do Estado Novo - 1937-45", de Eduardo Escorel

    COMPETIDORES

    Vladimir apresenta, no sábado (9), "Cícero Dias, o Compadre de Picasso". O filme se debruça sobre o pintor pernambucano que, em 1937, deixou o país para fugir do Estado Novo em direção à Europa, onde conviveu com Picasso, Miró e Fernand Léger.

    E a ditadura decretada por Getúlio Vargas é o tema central de Eduardo Escorel. Em "Imagens do Estado Novo "" 1937-45" (dia 10), o diretor vasculha documentos visuais e textuais para mostrar as inspiração externas, o modo de funcionamento e as contradições daquele regime.

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    Cícero Dias (esq.) e Pablo Picasso em cena do documentário "Cícero Dias, o Compadre de Picasso", de Vladimir Carvalho
    Cícero Dias (esq.) e Pablo Picasso em cena do documentário "Cícero Dias, o Compadre de Picasso", de Vladimir Carvalho

    Já Walter, em "Manter a Linha da Cordilheira sem o Desmaio da Planície" (dia 12), dá voz ao poeta carioca Armando Freitas Filho, que em 1963 lançou seu primeiro livro, "Palavra".

    Walter discorda da classificação de "maioridade" do festival.

    "O É Tudo Verdade nasceu maduro, experiente. E o cinema moderno brasileiro nasceu com um documentário, 'Aruanda' [curta de 1960, de Linduarte Noronha], que Glauber Rocha considerava precursor do Cinema Novo."

    Ele lembra que o nascimento do cinema foi documental, com os irmãos Lumière, e só depois a ficção se consolidou.

    "Mas o documentário sempre esteve presente com suas lentes e mentes voltadas para o mundo do real", diz.

    Neste ano, o festival homenageia Carlos Nader, que venceu as duas edições anteriores da competição –com "Ho­­­­­mem Comum", em 2014, e "A Paixão de JL", em 2015.

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